segunda-feira, 11 de setembro de 2023

UM POEMA DE TAHAR BEN JELLOUN

 


O SERMÃO DO CAMELO, 1974
 
Prometeram-me um pote de mel puro
era eu trocista e imponente
estavam à minha frente
de mão estendida para ocidente
eu disse
às aves de areia
sílabas do meu canto:
mudem de cor e sigam-me
saímos do deserto
por um pouco de mel e de luz
o tempo passará
                            sem tocar nas vossas asas
o dia será azul
tal como na lenda
eis a minha palavra
o nosso destino
sigamos em frente
                               sem esperar pelo vento
feridas saradas
aprendi
que mãos febris
detêm o sol nas alturas dos penedos
os olhos das crianças
sangram ao amanhecer
                                        entrançam o cabelo
                                        na lama seca de Setembro
entendeis vós este canto
é o chamado canto das dunas
longe das cidades tranquilas
eles dançam
o pássaro abre as nuvens
que libertam mãos mortas
nós nascemos
com as escrituras à frente
a nossa estrela
fica uma vez por ano
nua no horizonte
subleva a terra
no dia terno
                    e vertiginoso
 
Tahar Ben Jelloun (1947) nasceu na cidade de Fez, Marrocos. Romancista, ensaísta, pintor, poeta, ganhou o Prémio Goncourt em 1987. Chegou a estudar Filosofia na Universidade Mohamed V em Rabat, mas viu os estudos interrompidos quando foi enviado para um campo disciplinar do exército, em 1966, por participação em manifestações proibidas. Foi no campo que escreveu, às escondidas, os primeiros poemas, um deles publicado na revista “Souffles” em 1968. O primeiro livro surgirá em 1970 com o título “Hommes sous linceul de silence”. Mudado para França, concluiu doutoramento em psiquiatria, foi colaborador do Le Monde, do El País, do Corriere della Sera. Tem obras adaptadas para teatro por Michel Raffaelli, assim como estudos sobre Genet e Beckett. Autor de vasta e multipremiada obra, é um dos escritores mais traduzidos do mundo. Em 2011, foi distinguido com o Prémio da Paz Erich Maria Remarque pela defesa da tolerância e da integração na sua obra. Para a infância, escreveu livros sobre islamofobia na sequência dos atentados de 11 de Setembro de 2001, nos EUA, a após os atentados de 13 de Novembro de 2015, na França. O poema aqui divulgado foi incluído na “Anthologie de la Poesie Marrocaine d’expression française”, organizada por Jean-Pierre Koffel para as Éditions Aïni Bennaï, 2006, pp. 31-32. Versão de HMBF.

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