terça-feira, 31 de outubro de 2023

UM POEMA DE PAULO DA COSTA DOMINGOS

 


4

Eu sei, eu sei: os jardins são
pastos de batas com laços gomados
que gente de terceira classe debica, todos
passeando seus substitutos de estimação.

(Uns filhos são, outros só de passagem.)
¡A falta que lhes fazem aqueles antigos fios
de ligamento encaracolado lançando
o seu veneno na noite telefónica!

Os leões da leitura sorriem
para os seus pés inchados,
cada gota de álcool mitiga
essa curiosidade mórbida.

Eu, sei. Viajarei também os sonhos
escondidos em arbustros, que ardem,
o hiato que liga duas vidraças
atingidas pelo receio infantil;

e as cadelas, desalmadamente, são como
lebres mecânicas, velozes portanto,
à distância, e saem do enqüadramento
e da fantasia fenecendo. ¡Espera!

Paulo da Costa Domingos, in Manobra Portuária, co-edição Barco Bêbado e viúva frenesi, Outubro de 2023, p. 15.

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