sábado, 25 de novembro de 2023

O 25 DE NOVEMBRO ENQUANTO COITO INTERROMPIDO

 
É natural que num país de choninhas haja quem perca tempo com o 25 de Novembro, essa data histórica que deve ser comemorada para celebrar o que não aconteceu. É como cantar os parabéns àquele espermatozóide que não vingou, ao fio de langonha que podia ter gerado filhos mas se perdeu para sempre sobre a pele do corpo amado. O 25 de Novembro é cantar os parabéns ao filho por nascer, ao coito interrompido, ao aborto espontâneo. Num país de panhonhas isto faz todo o sentido, tal como faz todo o sentido mostrar muita preocupação com a pobreza ostentando luxo e desperdício, amar a família enquanto se vai às putas, andar com a boca cheia de clima alterado sem mudar hábitos de consumo, ser católico dando umas fodas por fora, práticas muito comuns numa sociedade de hipócritas que não só convivem lindamente com a hipocrisia como a promovem diariamente nos seus comportamentos ambíguos. Não sei de um país onde exista tanto trafulha hiper crítico da trafulhice, tanto corrupto crítico da corrupção, tanto incompetente crítico da incompetência, tanto parvo que nunca leu um livro na vida a queixar-se de que não se lê no país. O 25 de novembro é a data desta gente, é uma espécie de Black Friday das revoluções em que se compra tudo por metade do dobro, é o faz de conta que alegra pacóvios e cretinos. É preciso explicar às gerações vindouras, sobretudo as que vão ser amamentadas pelas redes sociais, que antes do 25 de Novembro já não havia guerra colonial alguma nem presos políticos nem censura nem ditadura. Essas porcarias, esse legado atroz de quase meio século de indigência mental e tirania do medo, essas bodegas acabaram no 25 de Abril e graças ao 25 de Abril. A malta que vive hoje com o cérebro cheio de teias de aranha, a malta que se benze antes de cometer um pecado, os hipócritas que amam a liberdade arrogando-se no direito de impor aos outros os seus modos de vida, as suas crenças, a sua cultura etnocêntrica, essa escumalha está empenhada apenas em fazer esquecer o essencial. São burros, acham que beneficiam muito com o folclore da celebração de datas vulgares. Cantam os parabéns ao não nascido para não terem de celebrar a vitalidade que os atormenta.

1 comentário:

Ivo disse...

Ámen. Foda-se.