Os avaliadores são um tipo de pessoas a quem cabe dar
notas, atribuir pontuações, distribuir estrelas. Estão nas páginas do chamado
jornalismo cultural, geralmente pouco culto, aquele a quem cabe tratar dos
assuntos da cultura, estão nos estúdios das televisões, geralmente
(a)berrantes, estão nos festivais, nos concursos, nas batalhas de leitura, que
um pouco por todo o lado se encarregam de olear a máquina competitiva reduzindo
a complexidade dos assuntos a números, estrelas, símbolos, emojis. Tudo isto é
feito sem que se perceba com clareza os critérios subjacentes à avaliação,
sendo de supor que, como é visível no popular Festival Eurovisão da Canção,
esses critérios estarão invariavelmente enviesados por inclinações políticas,
oportunismos económicos, simpatias ou antipatias patológicas, o eterno
amiguismo muito português, essas coisas. Dá-se o caso, na actualidade política
nacional, de um desses conhecidos avaliadores se encontrar agora no papel de
avaliado. O estilo é o mesmo, a despeito da ausência de notas finais. Curioso é
verificar como o avaliam onde era ou foi funcionário, nomeadamente por
ex-colegas de serviço com quem teve contendas e imprecações. Houvesse um
serviço mínimo de espírito crítico, esta gente não seria levada a sério. Seriam
mesmo alvo de chacota. Mas neste novo paradigma influencer o espírito crítico
não só rareia como se revela inútil e ineficaz, o que conta é a capacidade de
síntese, as emoções, o alvoroço gerado, a comoção ateada, os incêndios
sensacionais com que se arremelgam olhos e fazem acelerar ritmos cardíacos. O
que conta é a perturbação dos sentidos, simplificada na bola preta para péssimo
ou na nota 10 para excelente ou nas três estrelas para mais do mesmo. Com isto
se entretém o povo, se alimenta a máquina popular, se ludibria a clientela, com
este comércio de influenciadores que estão para a opinião pública como os
destacadores nas lojas estão para as vendas. É tudo comércio para encher os
bolsos do produtor e adormecer o consumidor, que nos corredores do supermercado
não vai perder tempo a informar-se sobre castas ou conteúdos. Compra seduzido
pelo rótulo e convencido pelo preço. O papel do avaliador é facilitar a vida ao
consumidor, pensa por ele e, ao pensar por ele, condiciona a decisão. Não
decide nem coage nem determina, mas influencia, condiciona, ao mesmo tempo que
o exime de pensar, de reflectir, de se informar, de ponderar, tudo coisas que
levam tempo e dão trabalho, são maçadoras, desgastantes.
quarta-feira, 22 de maio de 2024
OS AVALIADORES
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