quarta-feira, 22 de maio de 2024

OS AVALIADORES

Os avaliadores são um tipo de pessoas a quem cabe dar notas, atribuir pontuações, distribuir estrelas. Estão nas páginas do chamado jornalismo cultural, geralmente pouco culto, aquele a quem cabe tratar dos assuntos da cultura, estão nos estúdios das televisões, geralmente (a)berrantes, estão nos festivais, nos concursos, nas batalhas de leitura, que um pouco por todo o lado se encarregam de olear a máquina competitiva reduzindo a complexidade dos assuntos a números, estrelas, símbolos, emojis. Tudo isto é feito sem que se perceba com clareza os critérios subjacentes à avaliação, sendo de supor que, como é visível no popular Festival Eurovisão da Canção, esses critérios estarão invariavelmente enviesados por inclinações políticas, oportunismos económicos, simpatias ou antipatias patológicas, o eterno amiguismo muito português, essas coisas. Dá-se o caso, na actualidade política nacional, de um desses conhecidos avaliadores se encontrar agora no papel de avaliado. O estilo é o mesmo, a despeito da ausência de notas finais. Curioso é verificar como o avaliam onde era ou foi funcionário, nomeadamente por ex-colegas de serviço com quem teve contendas e imprecações. Houvesse um serviço mínimo de espírito crítico, esta gente não seria levada a sério. Seriam mesmo alvo de chacota. Mas neste novo paradigma influencer o espírito crítico não só rareia como se revela inútil e ineficaz, o que conta é a capacidade de síntese, as emoções, o alvoroço gerado, a comoção ateada, os incêndios sensacionais com que se arremelgam olhos e fazem acelerar ritmos cardíacos. O que conta é a perturbação dos sentidos, simplificada na bola preta para péssimo ou na nota 10 para excelente ou nas três estrelas para mais do mesmo. Com isto se entretém o povo, se alimenta a máquina popular, se ludibria a clientela, com este comércio de influenciadores que estão para a opinião pública como os destacadores nas lojas estão para as vendas. É tudo comércio para encher os bolsos do produtor e adormecer o consumidor, que nos corredores do supermercado não vai perder tempo a informar-se sobre castas ou conteúdos. Compra seduzido pelo rótulo e convencido pelo preço. O papel do avaliador é facilitar a vida ao consumidor, pensa por ele e, ao pensar por ele, condiciona a decisão. Não decide nem coage nem determina, mas influencia, condiciona, ao mesmo tempo que o exime de pensar, de reflectir, de se informar, de ponderar, tudo coisas que levam tempo e dão trabalho, são maçadoras, desgastantes. 

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