Esta noite sonhei que choviam referendos, uma enxurrada
de referendos que deixou tudo alagado. Que grande tempestade. Até a terra
tremeu e ao tremor da terra seguiu-se um tsunami e depois do tsunami foi um ver
se te avias de referendos por todo o lado. Ele eram referendos à cultura de
abacate, aos parques fotovoltaicos, às localizações do novo aeroporto e do
hospital do Oeste, à fuga de cérebros, à geração mais bem preparada de sempre,
à grafia do nome próprio de Camões (Luiz ou Luís?), aos engates nos
hipermercados, às colunas de som nas praias, à cueca fio dental, ao preço das
bolas de Berlim, às casas de banho mistas, à produção de espargos, aos lesados
do BES, à pena de morte, à pena de vida em feiras medievais, ao tabagismo, ao
populismo, à identidade sexual de Imane Khelif, à domesticação de coelhas, ao
Index Librorum Prohibitorum, à liberdade religiosa, ao financiamento dos
partidos políticos, à concordata, ao dress code dos senhores e das senhoras
deputades, ao uso indiscriminado de termos tais como: vergonha, bandalheira,
impactante, entre outros, à divulgação da nacionalidade dos criminosos, à
divulgação dos financiadores dos partidos, ao que é feito do Luís Filipe Vieira
e do Joe Berardo, aos cartoons do António, à prisão perpétua e à pena de morte
e à castração química, à devolução das ex-colónias aos portugueses, às micoses,
ao herpes, às pessoas que menstruam, à atribuição de subsídios, ao lobby da
caça, à matança de animais na Torre Bela, às touradas, às picarias, às largadas
de touros, ao uso de calça bege com blazer azul e camisa branca, etc, etc, etc,
etc. Despertei agastado com tanto referendo, sentia-me afogado em boletins de
voto no interior de uma urna como um peixe num aquário. Fui passear a cadela.
Na rua, uma vizinha reclamava da merda de cão por todo o lado. Exigia um referendo
sobre o assunto, estava na hora de acabar com os cães no bairro. Enquanto
reclamava, dava côdeas de pão aos pombos, centenas de pombos, todos muito
higiénicos.
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