quarta-feira, 25 de setembro de 2024

50 X 5

 


"The Boatman's Call": Nick Cave & The Bad Seeds

Parece que Nick Cave andou por aí a fazer novamente das suas, para agrado dos amigos que puderam ir ver e frustração deste escriba que falhou mais um concerto do autor de “From Her to Eternity” (1984). Já o vi algumas vezes ao vivo e sei que são sempre momentos memoráveis. “The Good Son” (1990) foi o primeiro disco de Nick Cave and the Bad Seeds que adquiri, embora já estivesse familiarizado com o universo de Cave desde os “The Birthday Party”. Circulava pela terrinha um disco que rapidamente se transformou numa janela aberta para obras diversas, não necessariamente descerradas no terreno da música. Começávamos a ouvir falar de Harold Pinter, Rimbaud, Baudelaire, Dostoyevsky, Lautréamont… Os anos foram passando e os Bad Seeds, com as suas diversas formações, souberam renovar-se adquirindo feições diversas, abrindo sempre janelas sobre obras alheias. “Tender Prey” (1988), por exemplo, era dedicado a Fernando Ramos da Silva, morto pela polícia de São Paulo em 1987, com a idade de 19 anos, actor que ficou célebre pela participação no extraordinário filme “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1980), de onde vem a canção “ Foi na Cruz”, a primeira de “The Good Son”. Nick Cave foi sempre uma fonte de referências. O meu álbum preferido, no entanto, é “The Boarman’s Call” (1997). Creio ter sido aí que a veia de escritor de canções ficou mais exposta, permitindo-nos colher sangue em noites desesperadas e dias frustrantes. É uma daquelas obras acerca das quais falamos sem hesitar em perfeição, até pelo modo como uma banda, os Bad Seeds, composta então por uma formação de luxo, soube sacrificar recursos concentrando-se no essencial: as canções de Nick Cave. Seguiu-se a “Murder Ballads” (1996), o mais popular dos discos da banda, para negá-lo. E que bem sabe ainda hoje voltar a escutá-lo.

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