“Mingus Ah Um”, Charles
Mingus.
Charles Mingus, que dizem ter
tido péssimo feitio, foi, antes de mais, hospedeiro de uma extraordinária
convivialidade genética. As histórias sobre as suas origens multiplicam-se.
Imigrantes alemães misturam-se com chineses, africanos, ameríndios, suecos…
Desta impressionante confluência terá surgido um genial contrabaixista, depois de
experiências adolescentes com trombone e de alguns anos de dedicação ao violoncelo.
Trabalhou com muita gente. Fundou, com o baterista Max Roach, uma editora
musical. Arreliava-se com músicos que era capaz de despedir em pleno concerto.
Não gostava da palavra jazz. Ainda nos anos de 1940, na Los Angeles agora
devastada pelas chamas, surgiu a ideia de um workshop que esteve na origem do
Composer’s Workshop. No contexto dessa experiência foram germinando obras
geniais tais como “Pithecantropus Erectus” (1956) e “Mingus Ah Um” (1959), este
último provavelmente o álbum de jazz mais importante da minha vida. Foi depois
de o ouvir que comecei a interessar-me verdadeiramente por jazz, indo a
concertos, comprando discos, fazendo colecções, lendo livros. Ali estão o
gospel, o blues, o puro divertimento de “Jelly Roll”. Todas as composições são
de Mingus, acompanhado por uma pequena orquestra onde brilhavam o pianista
Horace L. Parlan, Jr. e os saxofonistas Booker T. Ervin e Shafi Hadi. Em “De Má
Condição” prestei-lhe singela homenagem no poema “Self-Portrait in Three Colors”.
Deixo a terceira estrofe: «Talvez
devesse munir-me / de termómetro e cronómetro / contra o esturro universal. /
Assim desprovido, levarei a vida a olho, / de improviso, como nos melhores /
momentos da trilha seleccionada.»
Sem comentários:
Enviar um comentário