quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

50 X 21

 


“Mingus Ah Um”, Charles Mingus.
 
Charles Mingus, que dizem ter tido péssimo feitio, foi, antes de mais, hospedeiro de uma extraordinária convivialidade genética. As histórias sobre as suas origens multiplicam-se. Imigrantes alemães misturam-se com chineses, africanos, ameríndios, suecos… Desta impressionante confluência terá surgido um genial contrabaixista, depois de experiências adolescentes com trombone e de alguns anos de dedicação ao violoncelo. Trabalhou com muita gente. Fundou, com o baterista Max Roach, uma editora musical. Arreliava-se com músicos que era capaz de despedir em pleno concerto. Não gostava da palavra jazz. Ainda nos anos de 1940, na Los Angeles agora devastada pelas chamas, surgiu a ideia de um workshop que esteve na origem do Composer’s Workshop. No contexto dessa experiência foram germinando obras geniais tais como “Pithecantropus Erectus” (1956) e “Mingus Ah Um” (1959), este último provavelmente o álbum de jazz mais importante da minha vida. Foi depois de o ouvir que comecei a interessar-me verdadeiramente por jazz, indo a concertos, comprando discos, fazendo colecções, lendo livros. Ali estão o gospel, o blues, o puro divertimento de “Jelly Roll”. Todas as composições são de Mingus, acompanhado por uma pequena orquestra onde brilhavam o pianista Horace L. Parlan, Jr. e os saxofonistas Booker T. Ervin e Shafi Hadi. Em “De Má Condição” prestei-lhe singela homenagem no poema “Self-Portrait in Three Colors”. Deixo a terceira estrofe:  «Talvez devesse munir-me / de termómetro e cronómetro / contra o esturro universal. / Assim desprovido, levarei a vida a olho, / de improviso, como nos melhores / momentos da trilha seleccionada.»

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