“Songs From a Room”: Leonard Cohen
and all the lousy little poets
coming round
trying to sound like Charlie Manson
Leonard Cohen, in The Future
Tenho andado a reouvir Leonard Cohen. A culpa foi da poesia
de Rosa Oliveira, que há dias me reenviou para a obra do escritor canadiano.
Escritor, é isso, escritor que também cantava e compunha, à maneira de outros
autores de canções em que a palavra é matricial. Diz-se na Wiki que,
inicialmente, teve muito interesse pela poesia de Lorca, depois por Yeats,
Whitman, Henry Miller. Faz sentido. Nele convergem os universos da
religiosidade e da sexualidade que, sobretudo na tradição judaico-cristã,
parecem inconciliáveis. Em 1956, publicou um livro de poemas. O primeiro disco, “Songs of Leonard Cohen”, é
de 1967. Portanto, muito antes de se afirmar como “cantautor” Leonard Cohen foi
escritor. “I’M Your Man” (1988) foi o primeiro CD que comprei na vida, quando o
formato ameaçava enterrar o vinil. Nessa época Cohen já tinha alterado a voz, a
electrónica havia suplantado a folk music, “First We Take Manhattan” e “Take
This Waltz” eram sucessos que pediam passos de dança. Nessa fase, Cohen
lembra-me Serge Gainsbourg, mas com uma elegância e um charme que no francês
eram culto autodestrutivo. Há uma inquietação mística que paira sobre a obra de
Cohen como uma nuvem estática, é uma ilha rodeada de incertezas e de dúvidas sobre
os lugares do bem e do mal no ser humano. Está na hora de rever “McCabe &
Mrs. Miller”, o western de Robert Altman que, pertinentemente, foi embalado por
canções de Cohen. O cenário é um bordel com putas perfumadas, limpas, lavadas e
casas de banho numa cidade onde os mineiros sobrevivem como porcos. No fundo é
sempre disto que se trata, saber viver com dignidade num mundo que a toda a
hora nos obriga a enterrar os pés na lama e na porcaria.
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