segunda-feira, 31 de março de 2025

UM POEMA DE ERIC WALKER

 


VERDE
 
Quando pensamos em cores, quando respiramos magia
consumimos natureza, conjecturamos,
olhamos para o talismã que nos fará bem.
O mesmo acontece com a política “verde”.
Por todo este país há uma floresta,
uma raiz verde,
não ideais que nos encurralem num paradoxo cego,
mas um movimento de erva que se alastra como um incêndio florestal
por todo o território.
A nossa Mãe é verde, verde é a Terra,
o verde cresce no meio do pó.
Canção verde do início da Primavera, o caule
e o carpelo são verdes, pétalas verdes
da flor mais silvestre de todas
as maçãs da mãe reinetas maduras e verdes,
numa tarte que é toda ela americana
emergindo da própria terra,
pessoas de t-shirts verdes, angariando assinaturas
num boletim verde.
O mundo recupera os sentidos,
já não vê vermelho.
Há trepadeiras a crescer sobre silos de cimento.
Um tufo de amoras cresce ao lado de uma central nuclear.
Ao longo de instalações devolutas de companhias eléctricas há cavalos e ovelhas a pastar
na terra verde
a América é verde.
Vota verde.
A floresta verdejante está de olho em nós.
Nós invadimos a natureza selvagem.
Com as nossas armas vimos apenas o pesadelo deste mundo.
Uma temporada negra num mundo negro onde a memória colapsou
Lembra-te da nossa Mãe verde, a Terra ama o verde.
Azul o céu e verde a erva.
Não podemos continuar a seguir Hitler.
A terra gira na sua órbita verde.
 
Eric Walker, in Poemas Escolhidos, trad. António Gregório, intr. Raymond Foye, posf. Neeli Cherkovski, capa de Francesco Clemente, Barco Bêbado, Setembro de 2023, p. 63. Da Introdução, Eric Walker (1964-1994): «Aprendi a poesia a partir da observação da natureza», escreveu. O desequilíbrio ecológico é uma das maiores preocupações da sua poesia, e no seu último ano, ou talvez dois últimos anos de vida, tornou-se na sua principal preocupação, após ter assistido à destruição horrenda das mais antigas florestas de sequóias da Califórnia.

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