Electra passa o tempo a lamuriar-se, espera que Orestes regresse do exílio para vingar a morte do pai. Agamémnon foi assassinado por Clitemnestra e Egisto, seu amante, depois de entregar a filha Ifigénia em sacrifício. Terá Clitemnestra agido por amor à filha ou aproveitou a deixa para se livrar do marido e ficar com o amante? Orestes lá chega, depois de se fazer passar por morto. Não parece muito determinado. É o Pedagogo quem o empurra. Crisótemis, irmã de Electra e de Orestes, tem a sensatez e a prudência de Ismena, irmã de Antígona. Dirão, talvez, que são cobardes diante do poder, mas há nessas duas um pragmatismo invejável. Não dão tragédias. As tragédias são das mentes vingativas e acirradas, o ódio que há nelas equilibra-se com o amor na vibração do mundo. Mas tanto Ismena como Crisótemis, a primeira em Antígona, a segunda em Electra, não são desprovidas de paixões. A obediência a que se curvam é estratégia, não é cobardia. A primeira das suas constatações é verdadeiramente trágica: «No entanto, se eu devo viver em liberdade, tenho que obedecer em tudo aos deuses.» Talvez possamos chamar a isto a isto razão emparedada, um paradoxo castrante que as condena ao sofrimento em solidão.
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