quinta-feira, 1 de abril de 2010

UMA ENORME NUVEM DE GAFANHOTOS


Fernando Grade (Fernando José da Costa Grade) nasceu no Estoril a 1 de Abril de 1943. Começou a escrever na adolescência, tendo publicado o primeiro livro em 1962: Sangria. Poeta, ficcionista, pintor, escultor, conferencista, dinamizador cultural, foi também crítico de arte no Jornal de Letras e Artes, Século Ilustrado e Diário de Notícias. Desde os 18 anos que colaborou, como jornalista ou cronista, com vários jornais. Em 1964, fundou o moviemnto poético desintegracionista. Entre 1966 e 1968, esteve como expedicionário militar em Angola. Aí organizou recitais, colóquios, criou o Teatro de Acção, foi crítico literário do ABC ─ Diário de Angola, dirigiu a página literária Polígono. Finda a guerra e a ditadura, integrou a Comissão Nacional de Defesa da Liberdade de Expressão. No Verão de 1987, administrou um breve curso sobre o Desintegracionismo. Deu aulas de escrita criativa, ganhou alguns prémios, assinou canções, foi vereador pela FEPU/APU da Câmara Municipal de Cascais, é o presidente do Comité Directivo do Movimento de Intervenção Cultural (MIC) que, entre outras publicações, foi dando à estampa várias edições dos cadernos de poesia Viola Delta. Fernando Grade tem mais de 20 livros publicados. Também assinou trabalhos com o heterónimo Abel Sabaoth (nascido no Porto, freguesia de Santo Ildefonso, a 6 de Junho de 1936). Não coube na antologia.



SOBRE A BABA MONÓTONA DOS VERMES

«Sócrates foi o mais lúcido de quantos a si próprios se enganaram.»
(Nietzsche)

UM cão com harpas e cerejas
veio das ondas do mar para os bosques:
era como um jardim plantado
com luz de pedras ao meio
liberto de cadáveres e serpentes.
Lírico sítio de árvores de
pêlo de longas tranças,
não há clarim que o vença.
O cão tinha fígados de flor
alimentava-se de factos exóticos
um vómito de nenúfares a arder
implacável ranho de baleia.

Havia os chicotes a rasgar o sexo
e o cão nunca tremia, não
respirava o buraco fendido por sombras.
O seu corpo de aço vagueia
qual nódoa de espiga de feno na boca,
bala azul.

Quem engana a raiva do cão
honra as mortalhas verdes e os sustos
afaga a baba monótona dos vermes.

OI -16 de Dezembro de 1990

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