Sim, com certeza. Eu aprendi a contentar-me com a simpatia. Encontra-se mais facilmente e, depois, não nos impõe nenhum compromisso. «Creia na minha simpatia», no discurso interior precede imediatamente «e agora ocupemo-nos de outra coisa». É um sentimento de presidente do Conselho: obtém-se muito barato, depois de catástrofes. A amizade é menos simples. A sua aquisição é longa e difícil, mas, quando se obtém, já não há meio de nos desembaraçarmos dela, temos de fazer frente. Sobretudo, não acredite que os seus amigos lhe telefonarão todas as noites, como deviam, para saber se não é precisamente essa a noite em que decidiu suicidar-se, ou, mais simplesmente, se não tem necessidade de companhia, se não está com vontade de sair. Oh, não, se telefonarem, esteja descansado, será na noite em que já não está só e em que a vida é bela.
Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Albert Camus.
2 comentários:
gosto muito do Sr. Camus. E gosto desta citação (parece conversa facebookiana).
Concordo que a amizade é mais exigente: espera telefonemas e decide fazê-los. Não acredito em relações unilaterais.
PS-Um beijinho pelo Rogil. Já li. :)
Também gosto do Sr Camus.
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