Camarada Van Zeller, tenho uma teoria sobre a refundação. Lembrar-se-á o meu amigo do escândalo sexual que perturbou o país nos saudosos oitentas. Também nessa época a expressão “aguenta, aguenta!” ganhou na voz popular um novo contexto, embora pronunciada por um famigerado arquitecto enquanto sodomizava um rol interminável de moças de recados. Agora, temos sentado no sofá um coelho insaciável. A verga está bem oleada e o cuzinho dos portugueses há muito vem cedendo generosa e submissamente aos apetites de violadores consentidos. Começou o coelho por meter a cabecinha mandando às favas os chamados privilégios da classe trabalhadora, enquanto por detrás instruía as suas vítimas sobre as posições menos dolorosas. Emigrem e não sejam piegas. À cabecinha seguiu-se parte do tronco, com a vergastada da austeridade penetrando, como há muito não se via, nos subsídios do laxismo. Vão-se as férias, vão-se os feriados, vai-se o Natal, vem-se a besta. O Coelho larga o pêlo em privatizações à balda, no jogo das fundações que nunca o foram, na alienação do pouco que é nosso, de todos quantos vão baixando as calças a uma violação para a qual têm apenas como resposta os ais e os uis das manifestações alegres e musicais. O povo canta acordai, acordai, como se estivesse alguém a dormir. Não está o Coelho, que tal arquitecto das Amoreiras continua a brincar com os tintins enquanto discute novas medidas de austeridade. Nem está o povo, encafuado na casa do lirismo a meter pomada em feridas incuráveis. Está visto que o Coelho só descansará quando puder gritar triunfantemente: está todo lá dentro. Certo gorduroso do Estado diz que faltam 20 meses, outros dizem que nem daqui a 20 anos, nós olhamos para os números e pasmamos de certezas: nunca fomos tão brutalmente violados como nos prestamos a ser no ano que aí vem. Para quê? – perguntamos, como se ainda valesse a pena. Por detrás das nossas dúvidas já a verga novamente se levanta. O Estado leva-nos tudo para nada nos oferecer, nem a garantia de que quando chegar a vez do cu descansar teremos direito a algum descanso. Pagamos cada vez mais impostos para pagarmos cada vez mais serviços. A educação gratuita é uma miragem neste deserto inóspito de um ensino em franca decadência. Não tarda, só aos filhos dos ricos será possível estudar. A segurança social não só já não protege como se preparar para empurrar para a mais pura das misérias milhares de cidadãos, num sofá social onde nem continuando a baixar as calças e com a coluna bem curvada haverá direito a velhas ou novas oportunidades. Não lhes basta roubarem-nos o futuro, levam-nos também a esperança. Porque sem ela, crêem, tudo será possível, incluindo uma nova escravatura de come e cala com a cidadania reduzida às imperiosas necessidades do trabalho. A saúde não interessa. Quem quer ser saudável num mundo assim? Melhor será mesmo enlouquecer de vez ou apanhar uma doença má. Pode ser que a consigamos passar ao insaciável violador. Acabaremos todos numa enorme orgia de mortos vivos, como num filme de zombies. Mas já sem o sentido sequer de haver um vivo vivo para atacar.
5 comentários:
obrigado. realmente é muito difícil encontrar na blogosfera espaços originais e bacanas
realmente!
perante tão válido e rico argumento, vejo uma curta hardcore com o coelho 'e dura..dura' No final, já arrasados pelo personagem principal, conseguimos ainda assim vislumbrar atrás de si uma fila infindável de coelhos.
tugal transformado numa coelheira. austero gang bang. não haverá realizador para iso?
Sabendo toda a gente que os coelhos são levados da breca para as fodecas, devíamos ter adivinhado o que nos esperava após as últimas eleições. Agora olha, como diz o outro (o Taveira ou o Ulrich?!)... «Aguenta!»
Creio que também vão haver estragos do outro lado. É só o rastilho se acender e não vai ser bonito (como se diz agora...). O triunvirato de criminosos que nos desgovernam: o taliban financeiro Gaspar, o posto avançado Goldman Sachs do António Borges e o dois em um do Relvas/Passos Coelho (o aparelhista + crápula chapado) só por si não vão conseguir pulverizar um país sem serem corridos a pontapé. Os bancos fugirão ao primeiro alarme.
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