Alcântara, Lisboa. 2012.
Cá em casa a nossa cama é a nossa liberdade imediata. Tem os nomes que quiserem. É a cama do pai de família, austero e mandão, ou do dorminhoco pesado quando regressa embriagado para casa. É a cama do libertino. É o leito (suponhamos!) Luís-Qualquer-Coisa, XV ou XVI, do milionário, porque nela somos reis e milionários de ternura e de abraços, de palavras ciciadas; e é o catre sem lençóis, fracas mantas, e mau cheiro, do maltês que não sabe para onde o destino o manda (e somos isto, e que de longes terras viemos! quantos naufrágios! quanta coisa fomos largando para facilitar a marcha até aqui), a enxerga do pedinte (e nós o somos também: porque temos falta de tudo e porque acordamos de manhã sem uma bucha de pão para dar às crianças e sem saber ainda onde o ir buscar). Podia ser (dava para) um bom título de uma comédia picante, bulevardesca: UMA CAMA PARA CINCO; idem para um filme neo-realista, onde nem cama houvesse, só umas palhas podres e mijadas, com gaibéus ensonados, embrutecidos do calor e do vinho, fedor de pés, talvez um harmónio desafiando as cigarras e os grilos na cálida noite da planície alentejana. Uma cama para cinco, em herança, constituía um demorado caso de partilhas. Nós dormimos. Às vezes, muitas vezes, beijos e abraços.
Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Luiz Pacheco.
5 comentários:
Adorei o título e o texto também!!!
uma bela reflexão!
Abraço!
Adorei o título e o texto também!!!
uma bela reflexão!
Abraço!
Tão Ettore Scola que não há quem resista :)
Grande Paxeco!
Tão lindas palavras e ideias aqui deitadas, que na cama cabem muito mais que cinco, cabe o mundo inteiro de encanto aqui.
Amei o blog, sigo-o com prazer.
Muitos abraços
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