Camarada Van Zeller, quem julgava ter no Gaspar um
messias à altura do Salazar que foi chamado às finanças em 1926 bem pode tirar
o cavalinho da chuva. Não lhe resta senão uma figura inspiradora para anúncios
ao Jumbo e ao Licor Beirão. O ministro diz-se e desdiz-se, aponta-nos equívocos
e alucinações, com o semblante irremediável de um lunático à solta. Aqueles
papos nas olheiras não enganam, são demasiadas horas a olhar para o monitor do
Mac. Já essa figura sinistra que dá pelo nome de Miguel Relvas não tem direito
a anúncio, mas há-de ter direito a um canal de televisão inteiro. Há tempos, Helena
Roseta tentou definir o personagem revelando o seu lado de moço de recados dos
interesses privados no Oceano dos dinheiros públicos. Foi assim com a empresa
do doutor Passos Coelho, a lançar mão às verbas comunitárias, há-de ser assim
com os amigos angolanos, colombianos, brasileiros. O estilo não engana, e é
muito popular em Portugal. Chamem-lhe cunha, clientelismo, nepotismo, o que
preferirem. É a sem vergonha de um povo inteiro que se deixa governar por
vigaristas, copia-lhes os actos à medida das suas possibilidades, e deixa-se
enredar na alegria das dúvidas existenciais que os teóricos lançam para a mesa:
seremos a Grécia? Tudo muito protegido pela legalidade das actuações. Não somos a Grécia, somos bem pior. Somos a cauda de uma
europa com gastroenterite, a borrar Relvas e Coelhos e Gaspares e Borges numa
incontinência de porcaria sem remédio à vista. O povo que sai à rua acomoda-se,
faz a árvore de Natal, prepara a consoada, preocupa-se com o Banco Alimentar e
os lenços de seda chinesa da Jonet, olha-se ao espelho para se certificar de
que não está a metamorfosear-se em grego e condescende com os Relvas e mais sua
companhia de metralhas que vão sugando o que ainda há para sugar nesta cauda
europeia exangue e desidratada. Não chegou apanhar o mentiroso que conseguiu o
grau académico mais meteórico da riquíssima história do mundo universitário
português, um mundo fascinante ainda por explorar que já nos
ofereceu uma Lusófona ao serviço de currículos improváveis, uma Independente
especializada na formação de burlões e uma Moderna dan browniana com contas na
Suíça, viaturas de luxo e ligações subterrâneas às Grandes Lojas maçónicas das
boas elites portugueses. Portugal não é a Grécia, é pior. É o fundo do vulcão para
onde Empédocles saltou, uma lava sulfurosa de gente corrupta, mesquinha,
desavergonhada e com a consciência ética e moral de uma varejeira,
divertindo-se com jogos de bastidores, manipulando a opinião pública,
distraindo a sempre serena populaça enquanto se passeia nos corredores do poder
distribuindo cargos e títulos. O mais recente dos jogos está à altura dos
tempos, pois estas máfias são exigentes. Não lhes basta já os jogos de tabuleiro,
anseiam, como qualquer criança, pela luminosidade dos ecrãs. É vê-los de
joystick na mão a dar cabo da RTP, a televisão pública que andam a
cozinhar para privados com temperos de requinte cujas consequências se
resumirão, mais uma vez, a um altissonante arroto de satisfação no estômago do
poder (angolano). Varreram um director de informação com uma pinta que há-de deixar Moura
Guedes e Crespo, as vítimas do terrível e maléfico Sócrates, roídos de inveja. António
Borges, o obscuro mensageiro do Governo, já veio a público trazer o recado.
Alberto da Ponte, amigo de seu amigo Passos Coelho, reuniu-se com os
angolanos que estão a tentar meter no saco DN, JN, TSF e mais uns trocos, numa
orgia dramática que traz a palco empresas várias no domínio dos media
portugueses e a misteriosa Newshold, de proprietários desconhecidos e
«participada a 95% pela offshore Pineview Overseas, registada no Panamá». Portanto,
gente invisível que traz ao negócio a eterna clareza e transparência que os
nossos políticos adoram e se esforçam imenso por promover. John le Carré não engendraria melhor argumento.
2 comentários:
sendo que este «argumento» lhes servirá muito bem no futuro quando já não tiverem responsabilidades governativas. ou melhor dizendo: vou ali ser ministro para acabar com o que de melhor temos e garantir a minha reforma noutras paragens !
o governo é fixe, meus amigos !
abraço
mg
Só não concordo com uma palavra: "Imaginação", em 'Etiquetas'. Infelizmente toda esta podridão é demasiado real para ser imaginação. Antes fosse, antes fosse...
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