Camarada Van Zeller, isto não é um lamento, nem sequer é um
desabafo. Isto é uma constatação. Um tipo levanta-se às 8h para estar no
trabalho às 9h. Chega a casa pelas 21h, depois de um dia intenso a responder às
solicitações do público, dos chefes, dos parceiros, dos colegas. É assim
diariamente, a troco de menos de 1000€ por mês (o vencimento base está longe
disto). Depois chega a casa, quer descansar, deita-se um pouco, folheia as
notícias e dá com as novidades: Executivos dum grande banco falido riam-se a combinar quanto dinheiro iam pedir (e jamais devolver) ao Estado. Portanto, o
desconforto recrudesce no estômago, sobe à garganta, um tipo quase que vomita. Contém
o vómito, engole em seco e pensa: andamos a trabalhar uma vida inteira para
quê? Para que os CEOs, os administradores, os executivos possam comprar iates, possam
levar a família – se a não venderam já - de férias às Caraíbas, possam fechar
um restaurante só para eles enquanto se riem dos burros que os carregam e
explicam uns aos outros as manhas do negócio: não se
pode deixar os contribuintes perceberem que nunca vão recuperar o que é deles.
Para este estado de degradação, onde quem detém o poder já provou não o exercer
com ética, muito menos com moral, eu só encontro uma solução: encarcerar os
indivíduos para a vida inteira, deixando uma corda pendurada no teto de modo a
que eles se deitem e acordem todos os dias a olhar para aquela corda. Depois é
ter esperança de que lhes reste alguma dignidade dando uso à corda. Mas como os
nossos governos não estão empenhados em varrer do mundo esta horda de
flibusteiros, cretinos, vigaristas, ladrões, esta corja que mata mais e mais
lentamente do que qualquer Hitler da História da humanidade, como os nossos
governos mais facilmente usam exércitos inteiros para travar manifestações do
povo desesperado, roubado, enganado, traído, não é de esperar que a solução
apresentada venha a vingar. Constatado o facto, caro Van Zeller, melhor é
fazer como o macaco, tapar os olhos, os ouvidos, o nariz, a boca e o cu
de onde saem ideia magníficas, fazendo de conta que foi só mais um dia mau. Amanhã,
às 9h, lá estaremos a contribuir para o bem-estar do patronato a troco desse
luxo que é poder dizer que se tem trabalho.
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