terça-feira, 25 de março de 2014

POEMA DE SÉRGIO PACHÁ QUE RUY BELO TUDO FEZ PARA QUE FOSSE PUBLICADO ENQUANTO O AUTOR SE ENCONTRAVA EM PORTUGAL

MORTE EM LISBOA

Morrer é não ir mais ao Império
encontrar alguém a horas tais
nem a Trás-os-Montes ver o Douro
verde.

Morrer é o fim do mar
do vento que venta em Belém
da rua do Ouro, de Chopin, de Sísifo,
de duas ou três noites que se supunham a salvo
porque vividas,
bem como de um olhar - memória -
tão silente que jamais se ouviu,
e da carícia de meu Pai, memória, também
nos meus cabelos, matinal.

Morrer é sempre antes dos amplexos
adiados para melhor depois
e dos poemas pubescentes no Além-Tejo.

Morrer é assim: no Campo Grande
fecha-se o piano sobre um Andante
Cantabile, anónimo e qualquer,
patético (que ele era cego, o pianista).

Morrer: Portas do Sol em plena aurora
agora.


Lisboa, primavera de 67

Sérgio Pachá