Os anos passam... Já vai sendo tempo
De pensar na Viagem.
Irei bem ou enganei-me? Este caminho
É verdade ou miragem?
Procuro em vão sinais. Em vão persigo
As horas silenciosas.
De olhos abertos, cega, vou andando
Sobre espinhos e rosas.
Errada ou certa é longa a caminhada,
Longo o deserto em brasa.
Ah, não fora, Senhor, esta esperança
De uma fonte, uma asa!
Fonte, Senhor, que mate a longa sede
Desta longa subida.
Asa que ampare o derradeiro passo
No limite da vida.
As, Senhor, que mesquinhas as palavras!
Vida ou morte, que importa?
Para entrar e sair a porta é a mesma:
Senhor, abre-me a porta!
Fernanda de Castro (n. 1900 - m. 1994), in Asa no Espaço (1955). «É viúva do escritor António Ferro. A sua poesia patenteia-se fremente, banhada da claridade do sol e álacre pela vida que nela estua. Noutras vezes, porém, a sua alma espreita, compadecida, os infortúnios humanos e deles recebe o tom da sua canção» (Cabral do Nascimento, in Líricas Portuguesas, Segunda série). Sugere-se vivamente o visionamento do documentário disponibilizado aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário