Uma tara antiga, folhear necrológicos. Deter-me no rosto de
quem parte como quem se olha a um espelho, ver datas e fazer contas, viveu
tantos anos, perguntar-me: quantos destes anos terão sido, de facto, de vida? Dei
hoje com uma funerária brasileira que vai dando conta on-line dos seus mortos.
Foi aí que encontrei a imagem ao alto. A princípio, achei a fotografia
inapropriada. Por regra, os mortos dos necrológicos partem em pose familiar, fraterna,
sóbria, não ostentam partes desnudas nem poses sensuais. Logo a primeira
impressão desvaneceu perante o gozo do inusitado, e o dia foi ganho pela
surpresa. Que bom seria se todos nos despedíssemos do mundo como a Sra Amélia,
pelo menos uma vez na vida com os ombros soltos e à mostra, libertos dos fardos
que carregamos até à entrada nos céus.
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