«Eu nunca tinha gostado lá muito de livros e escritores, mas gostava de histórias. Histórias do Edgar Rice Burroughs, que escreveu sobre a África mítica — Luke Short, dos contos míticos do Oeste — Júlio Verne — H. G. Wells. Eram os meus favoritos antes de descobrir os cantores folk. Os cantores folk conseguiam cantar, em apenas alguns versos, canções que valiam por um livro inteiro» (p. 35).
«Tinha-me deixado do hábito de pensar em canções com ciclos curtos e comecei a ler poemas cada vez mais longos, para ver se me lembrava de alguma coisa do que tinha lido no princípio. Treinei a minha mente para isso, pus de parte os hábitos melancólicos e aprendi a aplicar-me. Li o Don Juan de Lord Byron e concentrei-me completamente nele do princípio ao fim. Assim como no Kubla Khan de Coleridge. Comecei a atafulhar o meu cérebro com todo o tipo de poemas profundos» (p. 48).
«As canções folk são vagas, falam da verdade acerca da vida, a vida é mais ou menos uma mentira, mas mais uma vez é assim mesmo que queremos que seja. Não estaríamos confortáveis nela de uma outra forma» (p. 59).
«(Archibald) MacLeish disse-me que me considerava um poeta a sério e que o meu trabalho seria uma pedra de toque para as gerações seguintes, que eu era um poeta do pós-guerra da Idade do Ferro mas que aparentemente tinha herdado algo metafísico de tempos idos. Apreciava as minhas canções porque se envolviam com a sociedade, porque tínhamos muitos traços e ligações em comum, e porque eu não ligava às coisas do mesmo modo que ele também não lhes ligava importância» (p. 87).
Bob Dylan, in Crónicas — volume I, tradução de Bárbara Pinto Coelho, Ulisseia, Outubro de 2005.
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