Acerca de quê poderá alguém pensar em escrever que não
veja todos os dias nos noticiários e nas televisões? As emoções humanas básicas
permanecem as mesmas mas são os media que as dirigem... Rimbaud,
Shelley, William Blake, Byron, quem são eles? Apenas poetas que temos a
liberdade de conhecer mas que ninguém escuta na televisão. Os media acabaram
de vez com a poesia e a literatura. Ninguém está disposto a desempenhar o papel
de Kafka, de escrever para não haver ninguém que o leia. Quem escreve quer ser
visto e lido. Ter, pelo menos, uma reacção. E é disso que os media se
encarregam. Não se pode esperar melhor poesia do que a que se vê nos
noticiários. Aí mostram-nos tudo o que é possível existir e mesmo aquilo com
que nunca fomos sequer capazes de sonhar. O que pode fazer alguém que escreve?
Todas as ideias são exibidas nos media muito antes de podermos
aproximar-nos delas. Vivemos num mundo de ficção científica. A Disney
conquistou o mundo. Este é um mundo de ficção científica Disney. Parques
temáticos, ruas da moda, é tudo ficção científica. Por isso, se um autor tiver
algo para dizer, deve fazê-lo fora disso. Fora do 'mundo real' que se transformou
no mundo da ficção científica. Quer tenhamos consciência disso ou não. Tivemos
a idade do oiro que terá sido a de Homero, depois a da prata, a do bronze, e,
agora, somos bem capazes de estar a viver na idade da pedra. Ou na do
silicone...
Bob Dylan, citado por João Lisboa, aqui.
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