Para que sirvo eu se sou como todos os outros
Se simplesmente me afasto ao ver como te vestes
Se me fecho em mim mesmo pra não te ouvir chorar
Para que sirvo eu?
Para que sirvo eu se sei e não ajo
Se vejo e não digo, se através de ti contemplo
Se me faço de surdo ao céu troante
Para que sirvo eu?
Para que sirvo eu enquanto choras suavemente
E escuto na minha mente o que dizes durante o sono
E logo regelo como os que nada fazem
Para que sirvo eu?
Para que sirvo eu então aos outros e a mim
Se tive todas as chances e falhei mesmo assim
Se tenho as mãos atadas e não me interessa
Quem as atou nem porquê nem onde devia eu estar?
Para que sirvo eu se digo disparates
E rio na cara do que a tristeza traz
E apenas volto as costas enquanto morres em silêncio
Para que sirvo eu?
Versão de HMBF.
What Good Am I? é uma das canções emblemáticas do álbum
Oh Mercy (1989). Bob Dylan tinha há muito recusado o título de cantor de
protesto, colado por uma imprensa ávida de rótulos num tempo em que os profetas
eram muitos e para todos os gostos. Colocando-se à margem desse caudal
messiânico tão profuso no mundo artístico das décadas de 1960 e de 1970, Dylan
optou por uma postura cada vez mais recolhida, isolada e enigmática. No
entanto, os seus discos da década de 1980 ficaram altamente marcados por letras
de teor religioso. Esta é uma delas, encenando um diálogo íntimo e autocrítico
consigo mesmo ou com as forças exteriores que o habitam. Optei pelo verbo
servir respeitando esse mesmo contexto confessional, do servo de uma causa que
se questiona a si próprio acerca do valor e da eficácia das suas acções. Assim
sendo, o sentido da bondade confunde-se com o da utilidade. É-se bom na medida
em que se é útil enquanto servo de uma causa.
3 comentários:
Gosto mais com o servir :)
Excelentes tradução e respectiva nota em rodapé. «Servir» faz a ponte para trás, para o álbum «Slow Train Coming», que abre com «Gotta Serve Somebody». Abraço do PCD
Abraço.
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