13 de Julho de 1993, andava eu perdido pelas colinas da
capital há meia dúzia de meses. Falhar a oportunidade de assistir ao concerto
de um dos meus ídolos estava fora de questão. Precisava de 4500€, consegui os
4500€. Dirigi-me à Bimotor, discoteca nos Restauradores onde comprei dezenas
(centenas?) de CDs, e os olhos vidraram, o rosto transpirou, o coração palpitou quando me vi com o bilhete nas mãos. Inicialmente agendado
para o Restelo, julgo que por falta de público acabou por ser transferido para
o dramático de Cascais. A 1.ª parte do Sérgio Godinho desapareceu, sendo
substituída por uma suposta 2.ª parte de Laurie Anderson. Referi-me a esse
momento aqui, mas não contei o mais relevante. Durante a actuação de Anderson,
grande parte do público manteve-se de costas voltadas para o palco. O ruído era
imenso, a performance literária de Laurie estava a passar ao lado. Não dos meus
sentidos, absolutamente concentrados e extasiados pela encantadora
experimentação daquelas canções. Confesso que ganhei mais nesse dia com o
concerto de Laurie Anderson do que com a prestação de Bob Dylan. Já numa fase
trôpega de um percurso instável, Dylan mal se ouvia. A voz resumia-se a um
imperceptível arrastar de sílabas, a acústica estava péssima, indisponível para
harmónicas e, a espaços, verdadeiramente insuportável tal era a cacofonia. Mas Bob Dylan estava ali a dois ou três metros, para mais com um álbum acabado de editar que
revisitava os bons velhos tempos da canção folk e dos blues. Ainda cá por casa
no velho formato vinil, volto a escutar Good As I Been To You (1992) e sou
surpreendido por uma canção intitulada Blackjack Davey. Trata-se de um entre
muitos tradicionais norte-americanos que Dylan recuperou, desbravando terreno
para que outros, depois dele, como os The White Stripes ou Elliott Smith, continuassem
a fazer viver o que há de melhor
no imaginário popular daquelas bandas. É neste sentido que podemos chamar-lhe
um clássico sem ofender o que teve de inovador. Pessoalmente, como já afirmei
noutras paragens, prefiro Leonard Cohen, Tom Waits ou mesmo Nick Cave enquanto
escritores. São compositores onde a face literária está mais exposta. E em
termos gerais de fusão entre a música e a palavra agradam-me mais as obras de
Neil Young ou de Bruce Springsteen, embora seja sempre com agrado que regresso
a Bob Dylan:
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