Como um perigoso labirinto, a grande metrópole contém armadilhas aparentemente anestesiantes mas destinadas a tornar irreversível a submissão das vítimas. É o caso das tabernas. Nas aldeias, estes estabelecimentos eram uma espécie de anti-igreja, o sítio onde aos domingos, à hora da missa, os aldeãos não praticantes tinham encontro marcado. Mas embora esse templo báquico assustasse um pouco a comunidade dos crentes com a sua ruidosa espontaneidade, era necessário à vida social e os transbordamentos perigosos eram evitados pelos mesmos aldeãos.
No ambiente citadino não havia autodisciplina. Quase sempre desnaturado, o álcool devia ser vendido sem limites e dar lucro máximo, se necessário envenenando os consumidores. Muitos operários gastavam o seu magro salário e arruinavam para sempre a saúde nesse sórdido antro. Contrariamente ao operário resignado, o herói abstém-se sempre de entrar na taberna.
Carlos Fonseca, in Mitos e Lendas Bíblicas no teatro português de temática operária, in Flauta de Luz, n.º 4, edição de Júlio Henriques, Abril de 2017, pp. 110-111.
2 comentários:
Confirma-se: nunca fui herói.
Não me o digas.
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