esta rara espécie que desfila diariamente para a morte inevitável. sem memória fúnebre. que transporta toda a ética para o leito nocturno. automática e básica nos rituais diários. que deixa o incondicional para o último suspiro. que fácil acordar para o dia sem o peso da noite. que cómodo morrer sem jeito e sem transpor a ponte e a estrada. caminha por cima a verdade. como uma armadilha de sabres de luz.
Sandra Andrade (n. 1976), in doppelgänger (2016). Estreou-se em 2014 com o volume Para Acabar De Vez Com a
Retórica, colectânea de textos escritos maioritariamente em prosa tendo como
ponto de partida as afinidades electivas da autora. Músicos, cineastas,
artistas, cientistas, convocados para uma performance anárquica onde o
quotidiano surge representado com extrema violência e crueldade. A inclusão de
referenciais provenientes da ficção científica transporta-nos para cenários
apocalípticos de pós-humanidade e pós-verdade, alicerçados em referências que
apontam para um contraste extremo e persistente entre um mundo orgânico em vias
de extinção e a realidade holográfica desta nova era cibernética. A
pós-realidade é o que aqui se coloca em xeque, numa escrita que reivindica para
si o bruto, o autêntico, o cruel e o violento retrato do texto como forma de
purgação.
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