terça-feira, 6 de junho de 2017

O DISCURSO

Num discurso para ser lido e ouvido, Bob Dylan começa por evocar Buddy Holly como influência fundamental. Deste, salta para Leadbelly e o álbum "Cottonfields": «And that record changed my life right then and there. Transported me into a world I'd never known». Estavam lançadas as sementes. Dylan encontrara canções "truthful to life", abraçara os géneros em que queria investir: «ragtime blues, work songs, Georgia sea shanties, Appalachian ballads and cowboy songs». O tom é confessional, autêntico, o reconhecimento de uma retórica especial aprendida e adoptada desde muito cedo. Na segunda parte do discurso, nomeia influências literárias. Cita três obras: «Moby Dick, All Quiet on the Western Front and The Odyssey». São obras que oferecem uma noção da natureza humana, o magma na origem da letra. Será da conjugação destes dois elementos, o exemplo colhido na vida e o exemplo literário, que a canção dylaniana assumirá forma. Indiferente ao significado, importa que soe bem. É esse o sentido. «Our songs are alive in the land of the living. But songs are unlike literature. They're meant to be sung, not read» - conclui Dylan. Ainda assim, são literatura. Uma das mais clássicas formas de literatura, tal como as histórias que a tradição oral imortalizou. O discurso completo: aqui.

Sem comentários: