segunda-feira, 24 de julho de 2017

ESPÍRITO CEGO


   Temos de reconhecer que o espírito cego de partido nos torna surdos à justiça e chega a levar pessoas honestas à mais cruel obstinação contra inocentes. Temos de o reconhecer, mas ninguém pensa em suprimir os organismos que produzem semelhante espírito.
   E, no entanto, os estupefacientes são proibidos. 
   Existem, todavia, pessoas que se abandonam aos estupefacientes. Mas haveria ainda mais se o Estado organizasse a venda de ópio e de cocaína em todas as tabacarias, com cartazes publicitários para encorajar os consumidores.
   Tira-se daqui a conclusão de que a instituição dos partidos parece bem constituir um mal quase sem mistura. São maus nos seus princípios, e maus nos seus efeitos práticos.
   A supressão dos partidos seria um bem quase puro. É eminentemente legítima em princípio e apenas parece susceptível de trazer, na prática, bons efeitos.


Simone Weil, in Nota Sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos, trad. Manuel de Freitas, pref. Júlio Henriques, Antígona, Julho de 2017, pp. 61-62.

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