(…)
As afirmações de Gentil Martins sobre homossexualidade,
que o médico equiparou ao sadomasoquismo e à tendência para a automutilação,
são de uma violência e insensibilidade muito pouco cristã num católico
praticante, e também irresponsáveis, tendo em conta o prestígio do cirurgião
pediatra, mas quem as tentar rebater invocando a evidência científica descobrirá
que se enfiou numa armadilha.
Segundo a psiquiatria moderna, as afirmações de
Gentil Martins estão desactualizadas há 44 anos, tomando por marco 1973, ano em
que os psiquiatras norte-americanos deixaram de considerar a homossexualidade
uma patologia. A classificação da homossexualidade como doença só trouxe
sofrimento ao mundo, das terapias traumáticas e inúteis ao reforço de um
estigma social ancestral. Quando se passou a considerar a homossexualidade
apenas como uma das várias orientações sexuais possíveis de um espectro
natural, aumentou o bem-estar dos homossexuais sem qualquer prejuízo para os
restantes cidadãos.
(…)
Mas seria insensato partir para uma discussão de
contornos epistemológicos sobre o que é a evidência científica e como se gera
consenso em ciência seria insensato, tendo em conta o nível do preconceito e os
argumentos primários com que a posição do médico está a ser defendida nas redes
sociais. Esta é uma conversa demasiado importante para ser iniciada por Gentil
Martins ou o semanário Expresso, que o foi entrevistar sabendo
perfeitamente a polémica estéril que iria gerar a custo zero, óptima para o
tráfego online e a tiragem do jornal; enviar um repórter à Tchechénia
para cobrir as perseguições aos homossexuais seria muito menos rentável.
(…)
No Ouriquense, aqui. O sublinhado é meu.
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