Sam Shepard marcou-me, sobretudo, como autor de Crónicas
Americanas, um livro por cá publicado pela extinta Difel. Citei-o aqui.
Foi um excelente actor. Dei por ele a primeira vez em Days of Heaven (1978), de Terence Malick. A última, foi em O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford (2007), belíssimo western de Andrew Dominik.
Assinou vários argumentos para filmes, entre os quais o de Paris, Texas (1984), de Wim Wenders.
Citei-o aqui, há coisa de sete anos, a propósito de matéria essencial.
Em 2008, publiquei na revista Big Ode um conjunto de estórias a que dei o título de Crónicas Europeias. Não faltou a epígrafe de Sam Shepard.
É mais uma referência que desaparece. Tem sido assim nos últimos anos, suponho que deva ser assim nos próximos. Atravessando o Paraíso é um título pertinente, dadas as circunstâncias:
Foi um excelente actor. Dei por ele a primeira vez em Days of Heaven (1978), de Terence Malick. A última, foi em O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford (2007), belíssimo western de Andrew Dominik.
Assinou vários argumentos para filmes, entre os quais o de Paris, Texas (1984), de Wim Wenders.
Citei-o aqui, há coisa de sete anos, a propósito de matéria essencial.
Em 2008, publiquei na revista Big Ode um conjunto de estórias a que dei o título de Crónicas Europeias. Não faltou a epígrafe de Sam Shepard.
É mais uma referência que desaparece. Tem sido assim nos últimos anos, suponho que deva ser assim nos próximos. Atravessando o Paraíso é um título pertinente, dadas as circunstâncias:
CONTIGO NÃO HÁ DISTÂNCIA
Não consigo
lembrar-me como é que era antes de te conhecer. Eu era sempre assim? Lembro-me
de mim perdido. Quanto a isso nenhuma dúvida. Deambulando. De nada em nada. De
alucinada em alucinada. Permanecendo, por vezes, apenas o tempo suficiente para
compreender que o desnorte delas era mais pronunciado do que o meu. Pelo menos
é assim que elas me aparecem. Mas não me lembro de estar assim nervoso como
estou agora; assim em frangalhos. Observava-as muito de longe, muito à
distância: pedradas, ensaiando banhos de esponja nos seus lavatórios; aparando
bolas pretas de haxixe com lâminas de barbear; movendo-se como rainhas em
câmara lenta. Depois, transformavam-se em raparigas em quintais de já lá vai
muito tempo, desfazendo-se em risinhos e aninhando as longas pernas debaixo do
aconchego dos seus corpos: a maneira como se afundavam sobre os seus macios
calcanhares e depois meneavam muito o cabelo como cavalos sacudindo as caudas.
Mas contigo não
há distância. Todos os movimentos que fazes, sinto-os como se viajasse na tua
pele; as tuas espreitadelas da janela, como se tu estivesses completamente
sozinha e sonhando num outro tempo qualquer. De nada me serve dar aos braços a
dizer adeus. Agora, está tudo ao contrário.
15/5/95 (SCOTTSVILLE, VIRGINIA)
Sam Shepard, in Atravessando o Paraíso, trad. José Vieira
de Lima, Difel, Fevereiro de 1997, p. 85.
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