António é discriminado na escola: é o único que não tem os pais divorciados. No recreio todos os amigos gozam com ele. Atiram-lhe frases cruéis à cara: «O António tem os pais juntos! O António tem os pais juntos! O António tem os pais juntos!».
António sente-se envergonhado. Vai chorar para um canto com a humilhação.
Na semana passada, António foi chamado a um gabinete: o Gabinete de Apoio a Filhos que Têm os Pais Juntos. Dois técnicos aconselharam-no a arranjar estratagema certo para acabar com o sofrimento: criar conflitos em casa entre as entidades paternas. Todos os dias, António trabalha para isso - inventando e-mails de amantes, por exemplo. Este ano, acha ele, vai ser finalmente uma criança aceite pela sociedade.
Nuno Costa Santos, in A Mais Absurda das Religiões, Escritório, Outubro de 2017, pp. 189-190.
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