sexta-feira, 15 de março de 2019

UM POEMA DE PAULO DA COSTA DOMINGOS

CAPELA DOS OSSOS

É o labirinto das medidas drásticas
no domicílio, no casulo controverso
de gente capaz de tudo, nem as feras.

Quase julgam-se felizes no atropelo,
e é que o são mesmo, como animais
enlouquecidos na sua vazia esfera.

Alguém lhes pôs água nas cabeças;
antes os houvesse afogado, mas não,
só fazem isso, a frio, à gataria.


¿Existe por estes lados um' agonia
que possa ser tida por boa, útil,
aprazível, salutar e duradoura?

¿Será um problema d' aerodinâmica
onírica?... quando a coisa única
que nos separa, ou liga, é a polícia...

Crânio sobre crânio, tarso sobre
tarso, cóccix sobre cóccix, vieram
os arquitectos compartimentar

o beco sem saída que esta vida é,
tod' os danos que deixámos para trás,
to-da a men-ti-ra piedosa...


Paulo da Costa Domingos, in A Vau, Companhia das Ilhas, Dezembro de 2018, p. 43.

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