O mercado de transferências desportivas não me estimula. Os
números também não me impressionam, já vi muita pornografia. Tudo se passa às
claras como num leilão, com governos e fiscais demasiado ocupados em operações
stop. O que me desassossega é a passividade das gentes, dos milhões de adeptos
e de anónimos, as pessoas, as massas, o povo, o que me desassossega é a sua
passividade e até certa adesão ao espectáculo. Que um jogador de bola valha 120
milhões ou mais é motivo de regozijo e disputa clubística à mesa do café, que um medicamento
para salvar uma criança custe 2 milhões é dano colateral. Em 2019, o orçamento
para a cultura em Portugal previa 501 milhões. A cultura no país das trotinetes vale 4,17
jogadores da bola com 19 anos. Isto causa estranheza, mas não motiva
indignação. É a vida, ou seja, é o mundo em que vivemos.
2 comentários:
não é só no país das trotinetes. nos outros supostamente mais "evoluídos" é igual, mas têm mais dinheiro.
e sim, o povo, o mesmo povo que protesta isto e aquilo adere em massa a isso, consome o merchandising e o lixo televisivo dessa indústria como se disso dependesse a sua sobrevivência...
o estado podia comprar 4 joões féliqueces (investimento de 480 milhões), punha-os a jogar num grande clube (tipo flamengo; intermediação de jorge mendes [cobra 10%, logo 48 milhões]), espera 2 ou 3 anos para valorizarem (consta que vai para o dobro, tipo 240 milhões), vendia-os após valorizarem bué (tipo 240 vezes 4, igual a 480 vezes 2, igual a quase 1.000.000.000,00€) et voilá, duplica-se o orçamento para a cultura!
o risco é o jorge mendes ficar com a guita quase toda ou o medina gastar tudo em trotinetes. mas vale a pena arriscar.
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