MICENAS
As nuvens passam sombrias sobre a pedra
onde em vão se buscam rastos do sangue
que secou para sempre a terra
outrora rica em cavalos.
Por onde passaram os pertences
até ao mar e à guerra
agora um hálito como que de túmulo recém-aberto
sai ao encontro do viajante.
E desde o terraço, se se avista
a áspera e ocre planície,
também se escuta o bronze cintilante
e o áureo rosto resplandece.
Pura ilusão, nostalgia dos homens
a quem a inteligência sossegou o coração
e já não sabem retesar o arco da vida.
Horacio Castillo, versão de HMBF a partir do original
coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en
Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis
García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, p. 333. Nasceu em
Ensenada, província de Buenos Aires, em 1934. Formou-se em Direito. Poeta,
ensaísta e tradutor, sobretudo de grego, membro da Academia Argentina de Letras
e correspondente da Real Academia Espanhola, estreou-se em 1971 com o livro “Descripción”.
Mais tarde acabaria por renegar este primeiro livro, passando a considerar-se “Materia
acre” (1974) a sua primeira obra. Recebeu ao longo da vida alguns prémios
e distinções, reunindo por duas ocasiões a totalidade do seu trabalho poético. Fortemente
marcado pelo imaginário clássico, muita da sua poesia tem como tema central a
viagem. Traduziu Odysseas Elytis, Yannis Ritsos, entre outros poetas gregos. Na
introdução a “La Casa del Ahorcado” (obra reunida), Pablo Anadón diz que a obra
de Castillo combina o intelectualismo girriano com o surrealismo de Enrique Molina e outros, apostando num distanciamento entre o autor e o objecto poético.
Dedicou a Alberto Girri um importante ensaio, publicado em 1983. Faleceu em La
Plata a 5 de Julho de 2010.
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