Há coisa de dois meses, Deus sabe a quantidade de
especialistas em alterações climáticas que andavam por aí a exibir teorias. Ainda
não se foram embora. Basta a Greta levantar o dedo, metem logo os corninhos ao
sol. Ou antes metessem, às vezes parece mesmo que as pessoas precisam de
apanhar sol. O meu amigo Bernardo diz que nunca houve tanta luz para tanto
cego, eu julgo que nunca houve tanto sol para tanta cara pálida. Mas se há dois
meses eram as alterações climáticas, há um mês era a iminência (ou será eminência?) de uma guerra nuclear.
Os iluminados em relações internacionais e geoestratégia deram todos à costa,
nunca antes se tendo visto tanta gente especializada na história do Irão.
Exactamente os mesmos que sabem tudo sobre a América do Sul, especialmente
quando os assuntos são a Venezuela ou Cuba. O Chile não interessa. Enfim, como
o mundo não pára, tiveram os especialistas em conflitos armados o seu momento
de glória para logo a seguir serem ultrapassados pelos especialistas em
pandemias. Se há mérito algum neste coronavírus, então esse mérito é sem dúvida
o de ter desenterrado imensa gente altamente esclarecida sobre vírus,
pandemias, epidemias e afins. Há por aí uma pandemia de virologistas que nunca
visto. Eu não me canso de admirar a vertigem noticiosa e a sua extraordinária
capacidade de germinar génios, peritos em matérias absolutamente improváveis,
gente que leu os livros todos, os certos, que conhece os artigos científicos,
que domina as matérias, que tem algo de absolutamente determinante a dizer ao
mundo, seja sobre incêndios ou sobre a história do colonialismo. Com tanta intelligentsia disseminada
pela rede, não admira que o mundo seja um desastre. Os génios ficam sentados ao
computador ou agarrados ao smartphone, a postarem a sua incomensurável
sabedoria sobre os problemas do momento. Depois não há ninguém no terreno para
que os problemas sejam resolvidos. Mas eu faço-lhes um desafio. Vamos lá tentar
apanhá-los de surpresa. Assim do nada, quem é que por aí sabe alguma coisa
sobre Iqaluit? Ah pois é, bebé, esperem só até rebentar a polémica de Iqaluit. Agora
estão todos calados, ninguém fala de Iqaluit, mas assim que rebente a polémica
de Iqaluit aposto que aparecerão de súbito e do nada centenas de iluminados
sobre Iqaluit. Aguardemos.
14 comentários:
Há muito que me alerto ao espelho para essa questão. O Canadá sempre foi um país que muito admirei, mas ultimamente tenho sido surpreendido por notícias que me deixam bastante triste. Afinal não são assim um povo tão tolerante. Penso que a grande vantagem é ser um país tão grande e tão vazio, caso contrário seria o desastre.
Aposto que os problemas de Iqaluit te ocupam desde pequenino.
Ainda bem que mencionas esse facto (que é verdadeiro). Iqaluit, para além de ser uma cidade onde gostaria de viver, tem essa característica que muito me agrada: fronteira. Isto é: entre norte (muito frio) e sul (frio). Sempre me preocupou o equilíbrio entre as tradições dos povos indígenas e os chamados tempos modernos. Iqaluit é um bom exemplo do equilíbrio muito frágil que existe entre progresso e tradição. Mas não me quero alongar muito no meu comentário. Obrigado pela oportunidade que me dás de voltar a este tema.
Não é cidade. É vila.
Discordo. Mas essa é também uma outra polémica que se arrasta há muito. Contudo, tem sido ultrapassada, nomeadamente com ajuda das instituições oficiais da cidade: https://www.iqaluit.ca/ : onde claramente se pode ler "City of Iqaluit" e "City Council". Penso que não restarão dúvidas em relação a isso.
"A village is a small community in a rural area. A town is a populated area with fixed boundaries and a local government. A city is a large or important town." Penso que Iqualit se enquadra, sem dúvida alguma, na última (isto é: "city").
Cidade ou vila, eis a polémica.
Já não é polémica. Esse assunto foi ultrapassado (tal como disse anteriormente) há muito. É pacífico, no seio da comunidade internacional interessada na "Polémica Iqaluit", considerar Iqaluit uma cidade. Penso que estás a polemizar sem qualquer fundamento válido, apoiado numa espécie de senso comum balofo e ultrapassado pelas evidências.
«We speak still of "sunrise" and "sunset." We do so as if the Copernican model of the solar system had not replaced, ineradicably, the Ptolemaic. Vacant metaphors, eroded figures of speech, inhabit our vocabulary and grammar. They are caught, tenaciously, in the scaffolding and recesses of our common parlance. There they rattle about like old rags or ghosts in the attic.». Foi George Steiner quem escreveu isto. E quem diz “sunrise” pode dizer “city”; e em vez de “sunset” pode dizer “town”.
??? Fdx!!! isto é que é levar-se a sério! Será que esta alminha não se toca que está a ser gozada?
Manuel, a polémica internacional em torno de Iqaluit sempre foi uma falsa polémica. Na realidade, a verdadeira polémica internacional em torno de Iqaluit está por vir. Podemos antecipá-la, mas ainda não se confirmou. Mas é previsível que chegue, tal como é previsível que venha a ser comentada por inúmeros anónimos interessados no tema.
Henrique, concordo contigo. Tinha pensado que a questão de Iqaluit estava resolvida. Bati-me por isto ao longo de vários anos. Mas vejo que não. Continuará e terei de continuar a esclarecer as pessoas. Não é justo que tudo se volte a repetir. Não é justo.
Como sabes, a justiça não é para aqui chamada. As coisas são como são, ainda que pudessem ser de outra maneira.
É a realidade, sim. Bati de frente com ela hoje. Novamente.
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