sábado, 28 de março de 2020

UM PINGO DE NORMALIDADE


Encostou junto ao muro do cemitério, deixando os quatro piscas ligados e o motor a trabalhar. Saiu pelo lado do condutor, de máscara no rosto e com luvas descartáveis. Retirou as luvas e guardou-as no bolso de trás das calças, ajeitou a máscara abaixo do queixo. De frente para o muro do cemitério, afastou ligeiramente as pernas, abriu o fecho das calças e inclinou a cerviz para trás enquanto desenhava estalactites com um jacto de urina. Respirou fundo como que insuflando os pulmões com o ar de uma certa normalidade. Sacudiu o instrumento antes de o recolher. Voltou a calçar as luvas e a tapar o rosto com a máscara, regressou ao carro e retomou a marcha. Presumo que tão satisfeito por aquele pouco de normalidade quão aliviado da bexiga.

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