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Nikias Skapinakis, cujas primeiras obras, com alguma ingenuidade, se caracterizaram pela afirmação de um paisagismo sobressaltado por uma poética de transfiguração, em que abordou temas como os do circo ou de certos aspectos urbanos, virá depois a realizar uma pintura figurativa de assinalável impacto visual, também de conotação pop e até pelo sentido quase cartazístico que lhe imprimiu em determinação do carácter bidimensional da pintura, antes de, já nos finais da década de 70, regressar com uma série de obras de imagética completamente diversa, em que se patenteia notável e inteligente capacidade de renovação da linguagem abstracta de valorização matérica, definida nos termos de uma apurada e preciosista sensualidade, através da chamada série de Vale dos Reis.
No seu percurso inquieto, Nikias continuou a interrogar o plano da representação em pintura, aproximando-se depois, e por via de uma crescente preocupação com o desenho, antes menos evidenciada, de situações verdadeiramente inéditas no contexto português, realizando uma obra cada vez menos próxima de inserção em contextos modais e por conseguinte cada vez mais voltada para uma investigação centrada em temas claramente singulares, em que se destacam as séries em torno do mito do Minotauro, onde o problema do regresso à bidimensionalidade se recoloca, mas actualizado pela consciência plástica dos limites e marcações mútuas da linha e da cor, do que resulta uma obra que não teve ainda, e até a esta data, o pleno reconhecimento que merece no contexto da sua ambição programática e no plano da sua nítida capacidade de realização e experimentação.
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Bernardo Pinto de Almeida, in Pintura Portuguesa no Século XX, 2.ª edição, revista e aumentada, Lello Editores, Dezembro de 1996, 109-112.
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