segunda-feira, 26 de outubro de 2020

WEST END BLUES (1928)


 

Estive com ele até ao fim, recolhi cada um dos seus dentes, compilei-os numa caixa de bombons. Hoje, se pretendo lembrá-lo, abro a caixa e vejo-o sorrir com os dentes à mostra. Não guardo nenhuma imagem da boca vazia, excepto quando aflora ao pensamento sem que eu pretenda. Aí, a imagem que se desenha na página é a de um buraco negro. Inclino-me à escuta, de olhos fechados, e sinto vibrar um som que vem das profundezas do corpo. Então canto e a morte transforma-se numa melodia agradável. Um som gerado no âmago da terra percorre os corredores do tempo e liberta-se no ar como um perfume. Aceito a morte como a um doce.

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