sou o último nome
esboçado a lápis na tua agenda.
masturbar a tua ausência,
escolher um pesadelo
e adormecer.
quando no coração houver
ferrugem.
o paladar da época:
sangue e metal.
Nuno F. Silva (n. 1993), in Epilepsy Dance (DSO, Agosto
de 2020). Publicou o primeiro livro, Flor de espinhos, com apenas 18 anos, mantendo
uma inusitada regularidade desde então. Epilepsy Dance, na editora Debout Sur l’Oeuf,
é o mais recente de 7 livros editados. Nos poemas deste livro a melancolia é um
substância maligna que circula no sangue e corrói o corpo, diferente do
estatuto de estado de alma mais ou menos momentâneo que geralmente encontramos
na poesia de inclinação elegíaca. Uma pontuação desconexa acompanha os ritmos
de um corpo em estado de dança epiléptica, evocação do modo de estar em palco
de Ian Curtis, malogrado vocalista da banda britânica Joy Division. A morte e o
suicídio são temas transversais, a par da solidão e de um erotismo sombrio mais
evidente na segunda parte do livro. Hóspede Ausente e O Canibal de Memórias são
dois conjuntos de poemas que se interligam, precisamente, por uma sensação de
mal-estar que, ao invés do que é habitual, parte de uma noção de “corpo
avariado” para a alma e não desta para aquele.
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