sábado, 7 de novembro de 2020

UM SONETO DE JOSÉ EMÍLIO-NELSON

 


SONETO VII

Da esquina das avenidas, nas tintas,
A escumalha e as raparigas esfumadas.
Os cães, dia de raça, empilham-se nas latas
E derrubam as tralhas enlameadas, indigentes.

Estrambólicos, cadáveres com saia curta, praguejam
Aos peões que cruzam a berma, fatigados,
E lhes deitam a vianda rosada, denteada.
E ainda assim os tilintam, moedeiros falsos.

Saúdo os que vigiam, à paisana, esfalfados,
E nos garantem a bonança, céu lilás, a forçá-los,
E os varrem para escoadouro das águas.

Infectam a cidade com as serapilheiras.
Por isso dêem-lhes, na doçura do clima,
Um chafariz camarário de creolina.


José Emílio-Nelson, in Sonetos Glaucos, Debout Sur l'Oeuf, Agosto de 2020, p. 11.

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