terça-feira, 1 de junho de 2021

UM POEMA DE PEDRO TEIXEIRA NEVES

 


APRENDER A LUZ

a espessura do cabelo mais fino
é uma brincadeira quando comparada
a um nanómetro

soube hoje pelo jornal

é agora possível apertar a luz
até à espessura de um átomo.

tomo um copo de água
apago a luz.

amanhã irei cortar o cabelo
e o mundo seguirá
entre um aperto e outro
por entre a luz seguiremos.

entre prender ou libertar a luz
prefiro gastar as minhas energias
a tentar aprendê-la

aprender a luz
com a paciência milenar do mar
no tecer dos líquenes e dos corais
aprender a luz
no lento fossilizar dos horizontes
ou como quem aprende a idade dos glaciares
a linguagem das pedras
o segredo dos rios num corpo de mulher

é preciso aprender a luz
como o amante que só com os olhos fala
e nesse brilho se enamora.

Pedro Teixeira Neves, in Uma Vírgula Depois, com Ivo Machado, Glaciar, Janeiro de 2019, p. 65.

Sem comentários: