Henri Philippe Benjamin Roorda van Eysinga (n. 1870 – m.
1925), ou simplesmente Henri Roorda, nasceu em Bruxelas, filho de um
funcionário do governo holandês na Indonésia demitido pelas posições
anticolonialistas. Começou a escrever ainda adolescente, acabando por formar-se
em matemática na Universidade de Lausanne. Foi professor, mas manteve uma forte paixão por música e literatura. Deu várias conferências sobre
pedagogia libertária, escreveu artigos opondo-se aos métodos de ensino tradicionais,
publicou em revistas de teor anarquista e satirista. Tinha um sentido de humor
mordaz, que não abandonou nem no derradeiro dos seus livros —
uma espécie de longa carta de despedida, anunciando a intenção de se matar.
Cumpriu, com um tiro no lugar do coração. Usando amiúde o pseudónimo Balthasar,
foi um cronista relativamente prolífico e autor de um almanaque com relativo
sucesso. Escreveu igualmente algumas peças curtas. O Meu Suicídio (Snob, Maio de 2020) data de 1925, derradeira obra à
laia de testemunho com reflexões sobre diversos aspectos existenciais, começa
com uma declaração de amor à vida fácil e termina com um conjunto de
pensamentos breves antes de morrer: «Gosto imensamente da vida. Mas, para fruir
o espectáculo, é preciso ter um bom lugar. Na terra, a maior parte dos lugares
são maus. É verdade que os espectadores não são, em geral, muito exigentes»
(p. 81). No prefácio, o tradutor Rui Caeiro diz: «não sabemos que mais admirar,
ou com que mais nos comover, a sinceridade, o humor, a candura, ou a meia dúzia
de verdades mais terríveis». Assim é, Roorda foi de uma
clareza matemática a abordar os temas comezinhos do quotidiano, reflecte sobre
as grandes contradições políticas com uma simplicidade desarmante —
«Quando me falam dos Interesses Superiores da Humanidade, não compreendo. Mas
gosto de lombo de cabrito e do vinho de Borgonha. E sei o que pode haver de
adorável na poesia, na música e no sorriso da mulher» (p. 27) —,
inventaria os prazeres da vida não deixando transparecer a mínima atitude
melancólica, faz um exercício de autocrítica procedendo a exames de consciência
sem lugar a qualquer tipo de complacência, desmonta com lucidez a hipocrisia do indivíduo
no seio da sociedade, assim como a instituição familiar — «O nosso dever social é,
pois, na generalidade, o de contrariar a nossa natureza profunda» (p. 52). Este
homem que amava a vida matou-se, não porque estivesse deprimido ou infeliz, mas
por não lhe ser possível viver com exaltação. «Sou feliz apenas quando adoro
alguma coisa», declara, e entre essas coisas não estavam o trabalho que lhe
trazia sustento nem a moralidade a que se via obrigado. Reconhece momentos de
alegria profunda, mas assume não ter sido «feito para viver num mundo em que
devemos consagrar a juventude à preparação da velhice» (p. 70). Quem pode censurá-lo?
E de que valeria fazê-lo?
2 comentários:
Assustador e Encantador!
Maravilhoso!
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