domingo, 11 de julho de 2021

BALTHASAR, ISTO É, HENRI ROORDA


 

Henri Philippe Benjamin Roorda van Eysinga (n. 1870 – m. 1925), ou simplesmente Henri Roorda, nasceu em Bruxelas, filho de um funcionário do governo holandês na Indonésia demitido pelas posições anticolonialistas. Começou a escrever ainda adolescente, acabando por formar-se em matemática na Universidade de Lausanne. Foi professor, mas manteve uma forte paixão por música e literatura. Deu várias conferências sobre pedagogia libertária, escreveu artigos opondo-se aos métodos de ensino tradicionais, publicou em revistas de teor anarquista e satirista. Tinha um sentido de humor mordaz, que não abandonou nem no derradeiro dos seus livros uma espécie de longa carta de despedida, anunciando a intenção de se matar. Cumpriu, com um tiro no lugar do coração. Usando amiúde o pseudónimo Balthasar, foi um cronista relativamente prolífico e autor de um almanaque com relativo sucesso. Escreveu igualmente algumas peças curtas. O Meu Suicídio (Snob, Maio de 2020) data de 1925, derradeira obra à laia de testemunho com reflexões sobre diversos aspectos existenciais, começa com uma declaração de amor à vida fácil e termina com um conjunto de pensamentos breves antes de morrer: «Gosto imensamente da vida. Mas, para fruir o espectáculo, é preciso ter um bom lugar. Na terra, a maior parte dos lugares são maus. É verdade que os espectadores não são, em geral, muito exigentes» (p. 81). No prefácio, o tradutor Rui Caeiro diz: «não sabemos que mais admirar, ou com que mais nos comover, a sinceridade, o humor, a candura, ou a meia dúzia de verdades mais terríveis». Assim é, Roorda foi de uma clareza matemática a abordar os temas comezinhos do quotidiano, reflecte sobre as grandes contradições políticas com uma simplicidade desarmante «Quando me falam dos Interesses Superiores da Humanidade, não compreendo. Mas gosto de lombo de cabrito e do vinho de Borgonha. E sei o que pode haver de adorável na poesia, na música e no sorriso da mulher» (p. 27) , inventaria os prazeres da vida não deixando transparecer a mínima atitude melancólica, faz um exercício de autocrítica procedendo a exames de consciência sem lugar a qualquer tipo de complacência, desmonta com lucidez a hipocrisia do indivíduo no seio da sociedade, assim como a instituição familiar «O nosso dever social é, pois, na generalidade, o de contrariar a nossa natureza profunda» (p. 52). Este homem que amava a vida matou-se, não porque estivesse deprimido ou infeliz, mas por não lhe ser possível viver com exaltação. «Sou feliz apenas quando adoro alguma coisa», declara, e entre essas coisas não estavam o trabalho que lhe trazia sustento nem a moralidade a que se via obrigado. Reconhece momentos de alegria profunda, mas assume não ter sido «feito para viver num mundo em que devemos consagrar a juventude à preparação da velhice» (p. 70). Quem pode censurá-lo? E de que valeria fazê-lo?

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