terça-feira, 21 de setembro de 2021

DESTROYED BY HIPPIE POWERS (2016)

 


William James Toledo Barnes cultiva a pose de jovem problemático, o que lhe trará problemas no futuro. A pose do jovem problemático só fará sentido enquanto ele for jovem. E problemático. Imagino-o, daqui a uns anos, agarrado a uma guitarra acústica a cantar canções sobre amores impossíveis e relações feitas em merda. Por ora, fala-nos das dores de crescimento e do direito à tristeza. Irrita-se com os bons conselhos das pessoas comuns, os quais redundam invariavelmente em soluções vulgares para quem não encontra respostas e só tem dúvidas. Acerca de quê? Ora, da vida. A sociedade é deprimente, o sentido da vida fica sem sentido cada vez mais cedo, o vazio cresce dentro de nós como pelo corpo se espalham pêlos. Como depilar o vazio que cresce por dentro? As drogas são uma solução possível, e facto é que nos irão acompanhar pela morte dentro. Sejam de que tipo forem. É raro o corpo que sobrevive sem drogas e a vida é, na maior parte do tempo, uma ressaca inquietante. O que fazer com tamanha saturação? Escrever canções? Beber? Fumar? Pó para a veia? Cogumelos para a cabeça? Amor? Tudo parece vago e inofensivo e anódino quando estamos dentro do cansaço e não vislumbramos saída. O cansaço é um labirinto para dentro do qual nos atiramos sabendo não haver saída possível. Nome engraçado para uma banda, Car Seat Headrest. É como se a música fosse a almofada a que encostamos a cova-do-ladrão em busca de repouso deste mundo (in)esquecível. Imagino-o a deixar crescer o cabelo como quem semeia liberdade no cocuruto. Imagino-o a chegar a casa, a sentar-se à mesa com os pais e a iniciar uma discussão sobre um coreano a quem os bombeiros não deixaram morrer. Era o que ele mais queria, morrer. Mas os bombeiros não deixaram. O que para uns é salvação para outros pode ser condenação. Assim imagino o jovem Will Toledo, a discutir com o pai antes de lhe atirar as chaves de casa à cara e a despedir-se com uma frase horrenda travada na garganta: Não vou chorar, não me vais fazer chorar. Tudo porque o pai não percebeu o direito do filho a pensar, como se diz agora, fora da caixa, e interroga-se aos berros: O que fizeram do meu filho? O que fizeram do meu filho? Como se o filho fosse seu, como se o que dele foi feito não tivesse sido também consequência desse exercício de poder exercido de pai para filho. Como se o coreano não tivesse direito a acabar com a vida, a sua vida. Will, quando fores pai lembra-te do que passaste e deixa os teus filhos em paz. Se eles quiserem saltar para o abismo, deixa-os saltar. Abraça-te a eles e salta também.