estou à janela e não passa ninguém
e é melhor que não passe ninguém
sei não sei porquê que ao longe a macieira é universo
uma vida simples acendida com poucas palavras
é o que vai é o que levo
a esperança é o toque de finados
o arder e a beleza as flores que hão-de vir
com os seus pigmentos derramados na minha fronte
um ponto de astro
irei aqui e no éter
e duas ou três linhas hão-de chegar
dois ou três adágios bonitinhos
escritos a dedo ou a pincel
com pigmento de musgo e de alga na terrina
e que ninguém ouvirá porque a morada será silêncio
é quase isso por enquanto
a vida respira ainda
Abel Neves, in Escuro Celeste dos Olhos, Averno, Setembro de 2019, p. 78.
Sem comentários:
Enviar um comentário