domingo, 3 de outubro de 2021

WALTZ #1 (1998)

 


Jeffrey Buckley tinha 30 anos quando, a 29 de Maio de 1997, afogou a voz no Mississippi. Um amigo que o acompanhava disse tê-lo ouvido cantar Whole lotta love enquanto nadava, antes de mergulhar num silêncio de morte. Com Lhasa de Sela foi diferente, viveu mais 7 anos do que Buckley, o filho. Faleceu no dia 1 de Janeiro de 2010, vítima de cancro da mama. Resta Elliott Smith, escritor de canções sem par. Foi-se deste mundo com meros 34 anos, duas facadas no peito e uma autópsia inconclusiva. Suicídio? Importa sabê-lo? Estávamos em Outubro de 2004, dia 19, e eu perdia uma das vozes mais comoventes do meu rol de “cantautores” preferidos com estreias na década de 1990. Junto-os em trio enquanto regresso a XO com um nó na garganta. Estes três anjos do Senhor, que se foram tão precocemente, ofereceram-me/oferecem-me alguns dos melhores momentos da minha vida, os quais redundaram/redundam sempre em algo muito simples: ouvi-los cantar, trautear as suas canções, acompanhá-los no ritmo e na respiração de um mundo ora prostrado, ora em busca do ânimo perdido. Serão precisos quatro para dançar uma valsa? Entretanto, mais um dia escurece e outro há-de nascer, as imagens continuam a desenrolar-se na minha cabeça como um novelo infindável de memórias repetidas. Meia dúzia de vezes juntos perduram eternamente neste sangue silencioso que me percorre o corpo. Perdoa-me os clichés. Tudo o que dissemos e ficou por dizer foi entretanto coberto por uma névoa espessa, tudo o que fizemos e não fizemos, incluindo as horas perdidas a ler-te à distância como um índio no topo duma colina em busca de sinais de fumo. Agora subvivo na minha jaula como um tigre às voltas, de parede a parede, e estudo o mundo na esperança de que passes lá fora, algures, e pelo menos repares em mim e me atires uma migalha do pão que te alimenta.

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