dedicatória um
aos ovos vindo das ovas
aos avós vindo dos avos
aos vindouros ovos voz
(indo dos ovos ao vós
sem metridourar centavos
entre as obras e as trovas
entre as calças e os cús
entre a carcela e o cós
sem mais respeito aos avós
(em que os avós reincidam
chantagens de cãs e caspas)
que O que os q'ridos avós aspas
que O que os cridos avós raspas
que O que os idos avós idem!
dedicatória dois
A SUA EXCELÊNCIA O EXCELENTÍSSIMO
PROFESSOR DOUTOR
ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR
ao camarada álvaro cunhal
o FAROL ALEXANDRÃO e a bóia-farol
que balizaram os dóris da minha geração
de gelos e bacalhoadas e
terranovas cruzadas de pinguim
e avós barbequim
nas cruzadas dos vinténs e das vintages.
dedicatória três
ao Homem anho do homem
ao M.A.S.
à F.A.I.
No lusco-fusco da seda púrpura aceno ao craveirinha
que leva ao colo o crocodilo totémico de fabrico caseiro
com que maxila e desfibra as maçarocas semanticas
e de mãos ocupadas responde ao aceno com o bigodão e as cãs precoces.
Xáu ruis, grito de ambas as mãos às ruivas pegadas
dos fantasmas fraternos. Estão ocupados e resmungam apenas
levando à trela os esgalgados arítmicos mancos leopardos.
Xáu sebastião! Não ouviu, já vai longe. Vai depressinha
dar amora aos bichos da seda com que alimenta um corujão de raivas.
Xáu, lourenço, e ouço alói de volta. Nem peço mais.
Vejo-o num gume de luz trocando de mãos as aves dilectas
que ninguém sabe se são rolas disfarçadas de gaivota
ou se gaivotas mesmo, mas de prata e mecânicas
provas de um superior artesanato que eros iniciou
espelhando-se numa fonte que corria de uma raiz de olivo.
Xáu, bernardo! é pá! E lá vai magestoso em dorso de elande
e a pele de um cão tinhoso feita pendão ao alto da azagaia.
Xáu eugénio! arre que é surdo! Empurrando por detrás
uma besta do apocalipse em papier maché, nem supõe
que toda a gente sabe que a sua bête noir é uma corça branca!
Xáu carneiro! E só este me sorri em resposta, silencioso
e só ele desliza só, sobre um bafo de cacimbo
só ele me parece liberto de tótens e incertezas.
Xáu lourdes! ei-la que singra com as vertiginosas doninhas farejadoras
no percurso mais denso da tarde, onde o feiticeiro se reconhece feitiço.
Xáu cipriano! salva-me com a caixinha de grilos silenciosos
e um grande ói emigrante na cabeleira da tarde.
Xáu duarte! E o ciganão envolve-se na grande capulana dum verde ao rubro
monta no quintal das trazeiras um negócio de tapetes persas
chega o morrão da prisca ao rastilho das indignações com maiúscula
e explode numa girândola de exclamativas e gatos vadios!
Xáu-xáu, noémia! Balança longe com um peso de vir da fonte
e sacrifica xiricos saltitantes num panelão de renúnica
pesada pesada pesada como uma ineludível dieta de milho piloado
Xáu-Xáu.Xáu angariadores da nova arca, cabouqueiros da rima
toca a andar prá bucha apressada, toca a girar
para o turno nocturno, o favo pesado das horas extra
o mais rentável e o mais desesperado. O menos produtivo o mais estável
O turno das descobertas sem enfeite e dos erros ortográficos.
Toca a abrir o olho e a afiar o dente e a preparar
o grande poema comum que há-de sair em livrinho barato
à escala dos simples que é o que nós não somos
e ao entender das crianças que é o que ainda soubemos não esquecer
e é no fundo, a única coisa de que temos um medo real por que é o difícil
João Pedro Grabato Dias, in Pressaga - ode didáctica, edição do autor, Saga Press, 1974, pp. 15-16.
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