«Na noite de terça-feira, José Miguel Júdice no seu comentário habitual na SIC Notícias, disse que “estão a morrer pouquíssimas pessoas, e que a maioria é com covid e não de covid”. Esta insinuação é falsa, e é também um dos infinitos argumentos dos negacionistas, porque pressupõe que os médicos estão a inflacionar propositadamente os números da pandemia.»
A falta de exigência na selecção dos indivíduos que comentam e opinam é proporcional ao benefício colhido pelo patrocínio desses mesmos indivíduos em concreto. Uns, pelos serviços prestados na defesa dos interesses políticos e económicos das direcções dos canais. Outros, simplesmente pelas polémicas que alimentam e, por consequência, pelas audiências que geram.
A televisão, já outros o disseram antes, inventou o presidente Marcelo, tal como anda a tentar inventar o presidente Gouveia e Melo. A televisão inventou André Ventura e energúmenos como o inclassificável Pedro Arroja, que muito provavelmente virá a sentar-se na Assembleia da República na qualidade de deputado do Chega. Que qualidade! A televisão inventou a Suzana Garcia que o PPD-PSD adoptou, nas últimas autárquicas, como figura política. É o percurso natural desta gente: de figuras públicas passam a figuras políticas, contradizendo-se em regra com as tomadas de posição adoptadas em público. Odeiam os políticos até serem convidados a pôr um pé no território da politiquice.
A televisão portuguesa só não adoptou João Tilly, porque este é há muito um dos maiores inimigos da televisão portuguesa surripiando-lhe conteúdos que manipula para divulgar mentiras e falsidades num canal de YouTube e nas demais redes onde está metido ao serviço do Chega. Uma figura sinistra. Também este irá parar à Assembleia da República, se for eleito por Viseu. De resto, a televisão inventou o Chega com a atenção que lhe dá e nunca prestou a outras forças políticas. Inventou um partido erguido sobre trafulhices, propagandeado à conta de aldrabices, objecto de um escrutínio quase sempre contraproducente.
Não vale a pena perder tempo a mostrar quanto do discurso dessa gente é capcioso, nem quão oportunistas são essas figuras que saltam de partido em partido até encontrarem o tacho onde poderão cozinhar os proveitos e os vícios que passam a vida a censurar nos outros. O palco que se oferece a tais criaturas é palco que se retira a outros, o tempo que se gasta com elas é tempo que não se investe nos outros, e assim a mensagem vai passando e vai-se propagando como um vírus incontrolável.
Em Janeiro deste ano, um grupo de malucos invadiu o Capitólio nos Estados Unidos. Em Janeiro do próximo ano, um grupo de malucos será eleito para a Assembleia da República Portuguesa. Todos de fato e gravata, sem cornos de bisonte mas igualmente pérfidos. Para regozijo das televisões que se alimentam destes fenómenos de populismo, por serem eles tão populares como a música pimba, tão lucrativos como a pornografia, tão úteis como a publicidade.
4 comentários:
Texto Top!
Não poderia estar mais de acordo com tudoo que foi aqui publicado, Henrique :|
Subscrevo totalmente!
É infelizmente tal qual descreve.
e ainda temos o inqualificável brazão.
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