Em 2015, a lei de
descomunização aprovada no parlamento ucraniano (Rada Suprema) atirou para a
clandestinidade o Partido Comunista da Ucrânia, o Partido Comunista (renovado)
e o Partido Comunista dos Trabalhadores e Camponeses da Ucrânia. A invasão
russa de 24 de Fevereiro deste ano levou à suspensão de mais 11 partidos, entre
os quais a Oposição de Esquerda, a União de Forças de Esquerda, o Partido
Socialista Progressivo da Ucrânia, o Partido Socialista da Ucrânia, o Partido
dos Socialistas. Um país que deu maioria absoluta ao Partido Socialista
aplaudiu de pé as considerações de Volodymyr Zelensky, que se apresentou com
uma t-shirt de gosto muito duvidoso. Nem todos aplaudiram, como é sabido.
Infelizmente, em vez de estarmos a debater o que foi dito pelo presidente da
Ucrânia, insiste-se numa campanha contra um partido político que tem defendido
desde o início soluções pacíficas para o conflito.
Zelensky pede mais armas (a
que mãos irão elas parar?) e acha que a Ucrânia vai entrar para a UE pela via
verde. Quem lhe mente não é o PCP, mas aqueles que o fazem acreditar que pelas
armas vencerá e que a UE acolherá de braços abertos um país destruído com 44
milhões de habitantes. Estes são os hipócritas, são os que insistem em colar o
PCP à Federação Russa por mais que o PCP venha dizendo há anos que não tem nada
que ver com o regime de Putin a quem os hipócritas de França, Alemanha, Itália,
Áustria, Bulgária, República Checa, Croácia, Finlândia, Eslováquia e Espanha,
venderam armas já depois da anexação da Crimeia. Prepare-se a esquerda
portuguesa para o que aí vem. Agora é o PCP a levar na cabeça por não embarcar
em hipocrisias, mas no futuro não será apenas o PCP. Como, de resto, está a
ficar visível numa Europa que pode sofrer já um golpe profundo nas próximas
eleições francesas.
A imagem acima reproduzida ilustra o que está a acontecer. Sob pretexto de um apoio cínico à Ucrânia, qualquer
gesto, qualquer afirmação, qualquer movimento que não se identifique
inequivocamente e em absoluto com a retórica montada será alvo de calúnias,
injúrias, difamação. Ontem, num programa da SIC Notícias, José Miguel Tavares
foi ao ponto de afirmar que o PCP era comparável ao Chega porque defendia o
extermínio de ucranianos. As palavras foram exactamente estas: «o PCP defende o
extermínio de ucranianos». No mesmo dia, João Oliveira no Jornal da 2 lembrava
que o PCP anda desde 2014 a chamar a atenção para o que se passa naquele
território, apoiando-se em relatórios da ONU que dão conta de mais de 14000
ucranianos mortos num conflito civil que opõe nacionalistas a separatistas. Não
se pode passar uma borracha sobre estes 14000 mortos como se eles não tivessem
existido (têm acesso a um deses relatórios aqui. Podem ler todo o documento ou apenas o último parágrafo. É rápido.) Também na SIC Notícias, António Filipe esclareceu, mais uma vez, a
posição claríssima do PCP:
- cessar fogo;
- apelar a soluções pacíficas na base do diálogo e da negociação;
- apoiar as populações, sempre na base da defesa dos Direitos Humanos.
Dizem que o PCP defende a
guerra, mas não dizem onde é que o PCP defende a guerra. Dizem que o PCP é
putinista, mas não dizem onde é que o PCP alguma vez elogiou o regime de Putin.
Dizem que o PCP é pró-rússia, mas não dizem onde é que alguma vez o PCP
defendeu a invasão russa. Antes pelo contrário, quando são confrontados com a
necessidade de demonstrar o que dizem que o PCP disse, não mostram. Não há um único documento do PCP que possa servir de prova a tais considerações. Injúria,
calúnia, difamação, não podem ser confundidos com liberdade de opinião. São
crime. Qual a diferença entre afirmar que o PCP defende o extermínio de
ucranianos e dizer, como André Ventura fez, que uma família do Bairro da Jamaica
era um bando de bandidos? Nenhuma. Ambos praticam o mesmo crime, ambos usam a mesma
táctica, exactamente com o mesmo objectivo e a mesma motivação: num caso
racismo, no outro caso anticomunismo.
Agora é o PCP, mas não será
apenas o PCP no futuro. O que está em causa é denegrir a esquerda e todo o
pensamento de esquerda que não alinhe nas hipocrisias da direita. Foi João
Cotrim de Figueiredo, Paulo Portas e Mesquita Nunes quem andaram a vender Vistos Gold
a oligarcas russos (ver aqui). Não foi nenhum membro ou militante do Partido Comunista
Português, que, de resto, há muito vem sendo oposição à ideologia de Putin e à sua Rússia Unida. Putin é um supremacista, tal como Donald Trump. A culpa do
crescimento da extrema-direita no mundo não é dos comunistas, é de todos
aqueles que insistem na difamação, calúnia e injúria do comunismo. Arriscamos a
ter novamente Trump nos EUA, Bolsonaro no Brasil, Le Pen em França, Boris em Inglaterra, Putin na
Federação Russa… E a culpa é dos comunistas? É o comunismo que governa o mundo
ou o comunismo tem sido um opositor claro deste mundo governado por crápulas e
cretinos como aqueles que andaram a negociar gás e petróleo com Putin e a vender-lhe
armamento?
- apelar a soluções pacíficas na base do diálogo e da negociação;
- apoiar as populações, sempre na base da defesa dos Direitos Humanos.
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