Não te estiques, para chegar longe basta
assobiar melodias de cor adivinhadas. O sucesso não é um figo que se apanhe no
alto da figueira. É completamente irrelevante meteres-te em bicos como uma
bailarina. Vem nos livros e é máxima antiga: em desgraça cai depressa quem
altos voos alcança. Por isso assobia e swinga como Leo Parker, o gozo da dança
está no par e, em não havendo par, estará, por certo, em o corpo ser agitado
pelos músculos invisíveis e imateriais da vibração fundadora do universo: om
shanti om. Se alguém te exigir mais do que isso, explica que o problema é
termos sempre de ser escravos de alguma coisa, ou de Deus ou do Estado, ou da
família ou do trabalho. Não sei se por conveniência, adesão voluntária,
educação ou coacção, mas o problema está sempre no motor da emancipação. Um
amigo falava em motor de arranque. Dizia, a brincar com seriedade, que “as
mulheres nascem com o motor de arranque avariado”. Isto era a propósito do
patriarcado tóxico de que agora tanto e tão mal se fala. Mas não são apenas as
mulheres, é o ser humano em geral. Também os homens precisam de olear o motor
da emancipação, a ver se conseguem autonomizar-se relativamente aos senhores
Deus, Estado, Família, Trabalho, etc. Aí tendes algo verdadeiramente literário,
a estrada que se asfalta antes da rede de esgotos haver sido planeada para que
os dejectos escoem até ao mar, esse mesmo mar em que mergulharemos o corpo para
nos refrescarmos da canícula.
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