COMO UMA ARMADURA CELESTE
E chega o momento em que
o instante fixa a eternidade:
quando as gotículas de orvalho
se desprendem da tua armadura celeste
(mas como, se as flores não suam?)
e dos céus uma brisa imperceptível
faz rodopiar o teu cale sem cessar,
numa dança majestosa
convocada pelo vento,
interrogo-me sobre os motivos de tanta beleza
ainda conseguir resistir a decretos
promulgáveis pelo tempo.
Talvez porque do teu encanto marmóreo,
levemente acobreado pelo sol,
não tenham nascido tantas odes ou versos
como as que celebrizaram flores menos bafejadas
pelas graças cósmicas.
Entardece.
E entre a sombra estrelar das formas
detenho-me com vagar no teu perfume,
ciência de todas as coisas.
Sérgio Almeida, in Periferia, com desenho de Paulo Moreira, colecção o iro do dia, Modo de Ler, Abril de 2019, p. 6.
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