segunda-feira, 19 de setembro de 2022

NÃO HÁ ESTÔMAGO QUE AGUENTE

 


   Com a morte da rainha de Inglaterra ficámos a saber que há um imperialismo querido e bonzinho. A hipocrisia com que um pouco por todo o lado, de alto a baixo, se têm calado os crimes e os massacres da coroa britânica é revelador quer da falta de consciência histórica que grassa entre nós, quer de quão subjectiva é a avaliação que as pessoas fazem da maldade perpetrada pelos estados. Já o modo como a imprensa tem abordado o assunto é mais uma prova claríssima dos processos de lavagem cerebral, negacionismo, higienização, hipocrisia e doutrinação que o poder em vigor nos impõe sob a falsa capa do serviço público e de uma democracia cada vez mais incapaz de se defender da sua maior ameaça: o pensamento único.
   Em tempos mais recentes, a coroa britânica torturou e massacrou os independentistas Mau Mau no Quénia. Tal como hoje criticamos à Federação Russsa de Putin o que está a fazer na Ucrânia, seria suposto que tivéssemos uma postura pelo menos igualmente crítica relativamente à potência colonial britânica. Basta o Quénia para obtermos uma contabilidade impressionante: 100 mil mortos, 300 mil prisioneiros em campos de concentração e de tortura. Muthoni Mathenge não foi fotografada pela Vogue, mas sempre podiam fazer uma breve pesquisa no Google sobre o que representa.
   Ou talvez conheçam aquela canção dos U2, "Sunday Bloody Sunday". Que vos sirva de banda sonora quando pesquisarem sobre os crimes ingleses na Irlanda. O "Domingo Sangrento" é só um desses casos emblemáticos de opressão dos britânicos sobre a luta dos irlandeses contra o desrespeito do Reino Unido pelos direitos humanos. Vários civis desarmados foram assassinados pelas forças que sobre eles atiraram indiscriminadamente. Eram russos? Não. Eram ingleses. E esta rainha agora morta já estava no trono, o mesmíssimo trono que continua a julgar que Irlanda do Norte, País de Gales e Escócia lhe pertencem, tal como Putin também julga que a Ucrânia lhe pertence. Não viram "Fome", o filme de Steve McQueen? Nem "Em Nome do Pai", de Jim Sheridan?
   O Gana, em África, é outro país cuja história vos devia fazer pensar um “niquinho”, em vez de andarem para aí a patrocinar lutos por reinados sanguinolentos. Depois da independência, os britânicos foram financiando golpes militares no Gana até terem o que queriam: um governo títere da Commonwealth. De onde julgam que veio/vem o ouro dos ingleses?
   E das Malvinas, valerá a pena falar? Terão interesse ou também irão fechar hipocritamente os olhos como se esse arquipélago na costa Argentina não estivesse nas mãos dos ingleses? Sabem quantos argentinos foram massacrados para que a coroa britânica ficasse com as Malvinas? Espreitem na Wikipédia.
   Podem continuar com as vossas bandeirinhas de perfil facebookiano e o vosso respeitinho pela rainha boazinha que de uma coisa não se livram, serem cúmplices do colonialismo racista e do imperialismo assassino britânico. A invasão do Iraque também não existiu? Será outra invenção de Hollywood? Nojo, é o que tudo isto mete. E vergonha por ser governado por marcelos e costas, fantoches num país que mais parece um teatro de marionetas.
   Na imagem está Miriam Muthoni Mathenge, viúva do veterano de guerra Mau Mau General Mathenge Mirugi, durante uma entrevista na sua casa em Laburra, condado de Nyeri, a 17 de Outubro de 2020. Por estes ninguém chora, nasceram para ser explorados e escravizados pela parte boa do mundo.

2 comentários:

Transhümantes disse...

Muito bom! Mas se eles, esse mencionados ignorantes, não aprenderam na história de portugal (território com letra minúscula) sobre o imperialismo mesquinho, selvagem, esclavagista e também assassino jamais poderão entender aquele que praticaram e praticam os britânicos...é impressionante como a dimensão dos "imperialismos" não fazem destes mais ou menos evidentes. Sem embargo que fizeram luto digital estão sempre atirando comparações absurdas quando lhes convêm ou lhes dizem que lhe vai convir!!!
Quando não se entende o significado e o valor da própria história está difícil vir a entender a história dos demais. Para a ignorância não há medida da mesma maneira que para aqueles que aceitam o crime. O Camus escreveu sobre isso no Homem revoltado se não me engano...abraço

Anónimo disse...

A velhota (tem a idade que teria a minha mãe) não morreu !!! Daqui por uns tempos aparecerá "ressuscitada" numa das suas concessões ultramarinas. A encenação, preparada com a nova 1ª ministra, destinou-se a dar um "doce" ao Carlinhos que já estava a ver que nunca mais era Rei (sou Rei, sou Rei). Finalmente, todo o espectáculo destinou-se apenas a ganhar umas coroas para o RU, que anda pelas ruas da amargura. Quanto vale a aposta ?